Portugal é o maior produtor europeu de bicicletas. Investimento no sector corre sobre rodas.
in Expresso, por Joana Mateus Nunes, 05-12-2015
Qual é coisa, qual é ela, que é capaz de melhorar o PIB, a balança de pagamentos, o emprego e a saúde dos portugueses enquanto reduz a poluição, a dependência energética, os acidentes na estrada, as horas passadas no trânsito e as contas por pagar ao fim do mês?
O negócio verde das bicicletas está a crescer e o segmento das elétricas (e-bikes) a disparar. Por cada dois carros são hoje vendidas três bicicletas na Europa. Nunca houve tantos fundos europeus para apoiar o investimento nas bicicletas nem tantos decisores políticos e entidades públicas mobilizados para nos convencer a usá-las. O impacto vai sentir-se em Portugal, que é dos Estados-mem- bros que menos pedalam e que mais bicicletas produz.
Bruxelas patrocina
O último impulso veio do pro- jeto U-Bike do Portugal 2020. O programa operacional para a sustentabilidade e eficiência no uso de recursos (POSEUR) acaba de disponibilizar €5 milhões às universidades para comprarem bicicletas e porem os alunos a pedalar já no ano letivo 2016/2017 e promete alargar a iniciativa a outros públicos. Já os programas regionais financiarão ciclovias de norte a sul do país no âmbito dos chamados Planos de Mobilidade Urbana Sustentável.
Já para a semana, encerra o concurso público que a Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL) lançou para o sistema de bicicletas públicas partilhadas em Lisboa. São €29 milhões, incluindo fundos do Horizonte 2020, para as empresas interessadas em instalar e gerir pelo menos 1400 bicicletas e 140 estações durante oito anos.
“Ciciando” é o nome do plano de €40 milhões, sobretudo fundos comunitários, que o Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) preparou para colocar a bicicleta no centro da vida quotidiana dos portugueses até 2020.0 plano não chegou a ser aprovado pelo anterior Executivo, mas pode ser repescado pelo atual. O programa do XXI Governo promete desenvolver e aplicar um plano de promoção da bicicleta, incentivar o bike sharing convencional e elétrico ou estimular a evolução da indústria de duas rodas para o segmento elétrico. O XIX Governo já tinha favorecido quem pedala nas reformas da fiscalidade verde ou do código da estrada.
A Federação Europeia de Ciclistas (EFC) estima que os apoios de Bruxelas possam duplicar ou mesmo triplicar até €2 mil milhões neste ciclo 2014/2020, sobretudo na Polónia, França ou Espanha.
Portugal investe
Portugal é o terceiro maior produtor europeu de bicicletas porque Vila Nova de Gaia tem a RTE, uma empresa portuguesa que é a maior fabricante europeia e parceira industrial da campeã de vendas Decathlon. O presidente Jorge Salgado diz ter investido cerca de €30 milhões nos últimos sete a oito anos e duplicado o emprego nos últimos dois anos. No Portugal 2020, viu agora aprovados €1,9 milhões de incentivos para produzir componentes antes importadas da China.
Perto de €9 milhões de incentivos do Portugal 2020 é quanto vai receber a nova empresa Triangles, um consórcio das empresas Rodi, Miranda & Irmão e Ciclo Fapril para investir €15 milhões numa nova fábrica de quadros de bicicleta em alumínio.
Outros investimentos em curso incluem os espanhóis da Orbea que trocaram a fábrica na China por uma nova em Aveiro ou o grupo de investidores nacionais que adquiriu o grupo Orbita/ Miralago. Deste grupo faz parte Paulo Monteiro Rodrigues, até há poucos meses secretário-ge- ral da Associação Nacional das Indústrias de Duas Rodas (Abi- mota). “Esta é uma oportunidade de mercado muito grande para a indústria nacional de bicicletas, sobretudo para quem apostar nas bicicletas elétricas”, diz.
“Se Portugal não apostar decisivamente na bicicleta elétri- ca, vai rapidamente perder para a China pelo preço”, explicou ao Expresso João Medeiros, o novo secretário-geral da Abi- mota. A associação quer captar fundos europeus para diversas iniciativas, desde projetos de internacionalização à afirmação do Cluster Portugal Bike Value que produz 1,6 milhões de bicicletas, tem 7500 empregos diretos e indiretos e exporta mais de €300 milhões.
Entidades como a Plataforma Tecnológica da Bicicleta e da Mobilidade Suave da Universidade de Aveiro ajudam o sector a inovar e a gerar mais valor. “Mas não podemos esquecer que a economia emergente da bicicleta irá ter sempre pela frente a poderosa economia do automóvel”, adverte o coordenador José Carlos Mota. “Entre imposto único de circulação (IUC), imposto sobre veículos (ISV) ou imposto sobre os produtos petrolíferos (ISP), a utilização do automóvel gera 15% a 20% do total dos impostos indiretos no país”. Ou seja, a bicicleta faz bem… menos às receitas do ministro das Finanças.