A resiliência da indústria de componentes automóvel portuguesa foi o destaque da 11ª edição da Automotive Industry Week, da AFIA, realizada entre 21 e 23 de novembro em Vila Nova de Gaia. Com mais de 200 representantes, o evento enfatizou inovações e tendências, sublinhando o papel crucial do setor na economia nacional.
in Jornal das Oficinas, 30-11-2023
Um marco importante deste evento foi a assinatura de um Memorando de Entendimento entre a AFIA e a KAICA – Korea Auto Industries Coop. Association (Associação Sul Coreana da Indústria Automóvel). Este acordo tem como objetivo o fortalecimento das relações comerciais e o desenvolvimento de uma cooperação mútua.
Na cerimónia protocolar, Young-hoon Kim, o representante coreano, destacou que Portugal “tornar-se-á uma importante base de produção de veículos elétricos no futuro” com as suas vastas reservas de lítio e empresas de componentes automóveis que exportam mais de 90% de seus produtos. Revelou-se confiante que esta cooperação entre as associações dos dois países “abrirá o caminho para desenvolvimento e fortalecimentos das relações comerciais entre os dois países”.
José Couto, Presidente da AFIA, afirmou que “as empresas portuguesas estão aptas para cooperar com as empresas sul coreanas para encontrar as melhores soluções que respondam aos desafios da mobilidade do futuro”.
O Ministro da Economia, António Costa Silva, em conjunto com o Presidente da AFIA abriu a sessão com as boas-vindas aos participantes no primeiro dia de trabalhos.
Perante uma plateia de empresas portuguesas e compradores estrangeiros, o Ministro da Economia garantiu que Portugal é um dos países mais seguros do mundo e um país estável para a atração de investimento estrangeiro que oferece um ecossistema de inovação altamente dinâmico.
Sobre a indústria de componentes automóvel, António Costa Silva reconheceu uma “grande resiliência e grande capacidade de inovação” com uma indústria capaz de fazer a diferença em Portugal, salientando a importância de antecipar as tendências e apostar na investigação e inovação, através da criação de patentes. Depois de em 2022 terem sido registadas 312 patentes, o ministro partilhou o seu sonho de ver ser registada uma patente por dia e destacou que “esta é uma das grandes indústrias que pode contribuir decisivamente para se chegar a esse valor no registo de patentes”.
Reunindo um conjunto alargado de convidados dos principais mercados da europa, dezoito empresas portuguesas apresentaram em formato de pitch os seus negócios, especificidades, caraterísticas técnicas diferenciadoras e tecnologia, demostrando as capacidades de engenharia e desenvolvimento para responder aos desafios da mobilidade do futuro, trocando experiências, discutindo estratégias e prioridades.
Na 4ª feira, dia 22 de novembro, os convidados estrangeiros presentes visitaram várias empresas do setor, nos distritos de Braga, Porto, Aveiro e Coimbra terminando o dia com um jantar de networking no Casino de Espinho.
A Conferência Internacional decorreu durante o último dia com uma plateia de 200 participantes, contando com intervenções de especialistas e conhecedores da indústria, juntamente com membros do governo, como o Secretário de Estado do Trabalho, Miguel Fontes e o Secretário de Estado da Internacionalização, Bernardo Ivo Cruz.
O dia começou com a apresentação do Estudo “Caracterização do Cluster da Indústria Automóvel em Portugal”, por parte da Deloitte.
Entre as principais conclusões do estudo revela-se que o cluster apresenta um volume de negócios superior a 20 mil milhões de euros, do qual 99% resulta de exportações. Desta forma, a exportação do setor corresponde a 23% do total de exportações de bens transacionáveis.
Para aqueles números impressivos muito contribuiu o sector de fabricação de componentes, globalmente representado pela AFIA. No ano de 2022, a indústria de componentes para automóveis só por si realizou vendas no valor de 13.200 milhões de euros, ou seja 5,5% do PIB nacional.
Foi também partilhado que a Indústria Automóvel em Portugal se assume como um setor vital para a economia portuguesa, tendo representado, em 2022, 3.922 milhões de euros, cerca de 16% do valor acrescentado bruto (VAB) total da indústria transformadora. A indústria de componentes automóveis é o principal contribuinte para a riqueza gerada em 2022 (cerca de 88,3%).
Foram ainda partilhadas as seis tendências da transformação da indústria: a eletrificação, as vendas e serviços digitais, a personalização e conectividade, a condução autónoma e mobilidade partilhada, a qualidade e fiabilidade e a sustentabilidade.
A indústria de componentes automóvel tem um papel crucial na geração de empregos, com níveis de remuneração acima da média e capacidade de atrair investimentos de maior valor acrescentado para impulsionar o desenvolvimento económico e social em Portugal.
O Secretário de Estado do Trabalho, Miguel Fontes felicitou a AFIA pela escolha do tema do encontro, uma vez que “convoca a todos para um sentido de urgência” na adaptação às tendências e desafios que o setor enfrenta.
Sobre os resultados do estudo, congratulou o cluster dos componentes automóveis pelo esforço que tem sido feito na qualificação e formação e por “dotar a indústria de um conjunto de profissionais que estejam alinhados em termos formativos, com essas necessidades imperiosas de se adaptarem os impactos da transição verde e da transição digital”. Destacou por último que o setor deve orgulhar-se das boas práticas, especialmente em relação à produtividade e remuneração dos seus trabalhadores.
Na intervenção de Thorsten Muschal, o Presidente da CLEPA (Associação Europeia de Fornecedores da Indústria Automóvel) realçou a relevância da indústria automóvel europeia, salientando a contribuição significativa dos fornecedores para a inovação e sustentabilidade, com o desenvolvimento de mais de 30 mil patentes. Por último, destacou a necessidade da indústria reconhecer as suas conquistas e de se posicionar como um interveniente forte a nível global.
Para fechar a manhã, o Secretário de Estado da Internacionalização, Bernardo Ivo Cruz, defendeu que este encontro foi uma demonstração da importância profunda deste setor em relação ao que aposta em investigação, em desenvolvimento de novos processos, em novos mercados e em novas soluções. Destacou ainda que estes investimentos no setor automóvel e nas suas várias componentes “são absolutamente centrais no desenvolvimento de uma economia moderna e de uma economia voltada para o futuro e para o dia de amanhã.”
Na sessão da tarde, o presidente da AICEP, Filipe Santos Costa, destacou a aposta de Portugal na formação e talento, referindo a importância da educação e recuperação do ensino técnico. Abordou ainda os desafios logísticos e de localização na indústria automóvel, mencionando os esforços da AICEP em encontrar as melhores localizações e destacou os investimentos estratégicos em transição energética e digital, com ênfase na eletrificação e produção de componentes automóveis. Por último, salientou a “relevância da indústria de componentes no panorama exportador, realçando o papel das grandes empresas”.
Seguiu-se Christian Teixeira, da Stellantis, que partilhou a experiência da Stellantis a investir em Portugal, em Mangualde desde 1960, tendo produzido mais de 1,5 milhões de veículos. Partilhou que atualmente, a fábrica tem 900 trabalhadores, produzindo 360 viaturas por dia e que, em 2022, a empresa representou 25% da produção automóvel em Portugal e que 30% dos componentes automóveis utilizados nos veículos produzidos na fábrica de Mangualde são fabricados no nosso país. Para finalizar, Christian Teixeira recomendou os investidores estrangeiros a investirem em Portugal.
Elisa Ferreira, Comissária europeia responsável pela Coesão e Reformas, realça o papel crucial da indústria automóvel na economia europeia, mencionando apoios como a política de coesão e investimentos em inovação. Destaca a importância da colaboração para superar desafios e impulsionar o setor, citando exemplos de projetos em Portugal apoiados pela Comissão Europeia. Salienta a relevância do investimento estrangeiro e a busca por benefícios duradouros, incentivando parcerias para fortalecer o futuro da indústria automóvel na Europa.
No encerramento da 11th Automotive Industry Week o Presidente da AFIA fez o balanço e apresentou as conclusões do evento.
José Couto destacou, orgulhoso, que “os valores melhoraram em todos os indicadores considerados desde o primeiro estudo, tendo sido possível verificar-se um aumento na faturação, que reflete um aumento nas exportações e um aumento significativo no valor acrescentado bruto, especialmente nos componentes automóveis”.
Tendo em conta que com os mesmos trabalhadores foi possível aumentar as vendas, a produção e o rendimento, o que comprova o aumento significativo da produtividade da indústria automóvel portuguesa. O presidente da AFIA defendeu ainda que “existe uma relação forte entre a produtividade e a distribuição de rendimento”, uma vez que ao aumentar a produtividade com os mesmos trabalhadores, aumentou-se o rendimento, criando-se e distribuindo riqueza.
Sobre as infraestruturas, José Couto sublinhou que é preciso investir nas infraestruturas e nos ecossistemas uma vez que as “fracas infraestruturas e a dificuldade logística são duas das razões para perdermos investidores estrangeiros”.
Para concluir estes três dias de partilhas, o presidente da Associação de Fabricantes da Indústria Automóvel refletiu que este encontro superou as expetativas e agradeceu a todos os presentes desejando que tenham tido a possibilidade de adquirir conhecimentos, fazer networking e construir possíveis parcerias ao longo do Encontro.