José Couto, presidente da AFIA: “Substituir componentes não é como ir ao supermercado”
Presidente da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA) diz que até cinco fabricantes nacionais, do universo de 350 que representa, terão atividade afetada em mais de 50% devido à paragem da fábrica da VW em Palmela.
in Jornal de Negócios, por Diana do Mar, 12-09-2023
Qual será o impacto da paragem de produção da Autoeuropa para os fabricantes de componentes automóveis?
A paragem vai provocar perturbações em cadeia, porque mesmo as empresas que fornecem a Autoeuropa de primeira ou mesmo de segunda linha também compram a fornecedores nacionais e, portanto, esses fornecedores vão sofrer implicações por limitação de produção e por diminuição da atividade, o que, em muitos casos, poderá determinar uma paragem de toda a empresa e outros casos ter um menor impacto, mas terá efeitos, como é óbvio.
Temos fabricantes nacionais de componentes com diferentes situações, consoante a sua dependência da Autoeuropa. Dispõe de dados de quantos terão efetivamente de parar?
Existem pelo menos três empresas que têm uma ligação muito forte à Autoeuropa pelo que a repercussão será muito negativa. Podemos dizer que há um grupo, entre três e cinco empresas, que terão mais de 50% da sua atividade afetada, e um outro, de até 30 empresas, entre 20 e 50%. O impacto é importante, mas não é desastroso. Embora a Autoeuropa seja um cliente importante, a indústria de fabricantes de componentes tem 350 empresas e, como um todo, não está dependente nem tem a Autoeuropa como um grande cliente, mas há um problema que tem de ser resolvido e obviamente estamos preocupados com o efeito da paragem da Autoeuropa.
A Autoeuropa foi obrigada a parar devido à falta de uma peça “essencial à construção de motores” depois de o fornecedor esloveno ter sido “severamente afetado” por fortes cheias, no início de agosto. Este componente é produzido em Portugal?
A questão não pode ser vista assim. Uma componente para a indústria automóvel passa por um conjunto de certificações e de homologações que não se podem obter de um momento para o outro. E, portanto, temos todos que perceber que não podemos ultrapassar um conjunto de pressupostos cruciais do ponto de vista da segurança dos automóveis. Podemos juntar uma ‘task force’ no sentido de tentar encontrar um fornecedor nacional, mas substituir componentes não é como ir ao supermercado. Não é fácil de resolver, porque há um conjunto de nuances que é preciso avaliar, além de que envolve questões de confidencialidade. É um trabalho de alfaiate, é preciso procurar e encontrar exatamente aquela componente, saber, por exemplo, que tecnologias são precisas ou se estão disponíveis em chão de fábrica, o que demora tempo, pelo que não acredito que seja possível resolver em dois meses.
O impacto da paragem da produção da Autoeuropa é importante, mas não é desastroso.