Não é a Siri, é a Sara Robô e ajuda a Simoldes a faturar
Com um ciclo produtivo altamente robotizado, a Simoldes Plásticos – que tem como clientes alguns dos gigantes mundiais da produção automóvel – ilustra as portas que a robotização pode abrir para as empresas que apostam na automação.
in Jornal de negócios, por Hugo Neutel, 11-09-2024
Se há setores onde a robotização é intensiva e tem um impacto palpável, a construção automóvel é um deles, seja nos fabricantes propriamente ditos ou nos seus muitos fornecedores. É o caso da Simoldes Plásticos, que representa 80% do negócio do grupo Simoldes e dirige a quase totalidade da sua produção para a indústria auto. E a aposta não é recente.
“No início da pandemia a Simoldes comemorou 60 anos de história, mas a robotização, com impacto forte no negócio, começou há 20 anos”, diz o CEO da companhia. Domingos Pinto explica, em entrevista ao Negócios, que esta estratégia é central e confunde-se com a historia da empresa nas últimas décadas: “É um pilar estratégico sem o qual simplesmente não é possível assegurar o nível de requisitos atuais”. A tal ponto que é difícil imaginar como a indústria funcionaria sem estas máquinas. “Temos processos totalmente automatizados e robotizados”, sublinha, explicando que “hoje, se formos ver todas as fábricas, sem destacar nenhuma empresa em específico, são totalmente robotizadas e se quiséssemos fazer veículos com a mesma cadência sem robotização, seria completamente impossível”, diz.
A margem para erro na indústria automóvel é diminuta e a empresa de injeção de termoplásticos (que entre os seus clientes conta com algumas das principais marcas do setor, como a Stellantis, a Renault, a Volkswagen, a Mitsubishi, a BMW, a Toyota, a Scania ou Mercedes-Benz) não passa ao lado desse facto. “O nosso nível contratual com os fabricantes é de zero defeitos por milhão de peças fornecidas”, sublinha. E o cliente final é cada vez mais atento: “nós todos, quando vamos comprar um veículo, investimos e se encontramos qualquer defeito, qualquer anomalia, imediatamente vamos reclamar ao concessionário”, constata.
A robotização no século XXI vai além das linhas de produção que contam com múltiplas máquinas autónomas que realizam tarefas em sequência, e inclui, por exemplo, o transporte de peças dentro das próprias fábricas, num cenário próximo da ficção científica. “Temos aquilo a que chamamos os AMR, [sigla inglesa para a expressão ‘robô autónomo móvel’], que fazem o transporte das peças do local de trabalho até um cais de carga e descarga. Não diria que temos isto a 100% em todas as fábricas, em todas as geografias, mas uma grande parte das nossas fábricas já tem estes robôs autónomos a circular e a trazer contentores vazios ou levar contentores cheios”, avança. De forma totalmente autónoma? “De forma totalmente autónoma, sem qualquer pessoa”, responde o CEO da empresa que está presente em oito países e faz parte de um grupo que no total, em todas as geografias, dá emprego a cerca de 5 mil pessoas.
Um robô com nome de gente e o papel da IA
Os AMR mostram que o conceito de robô vai hoje além das máquinas da linha de produção e chega a outras tarefas – incluindo trabalhos intelectuais. “Há outros ‘upgrades’ que já fazem parte do nosso dia-a-dia, como os robôs colaborativos, que dão ajuda aos operadores, na parte de controlo de qualidade e usam visão artificial, com ajuda da inteligência artificial (IA). Uma espécie de assistentes de verificação de qualidade.
Mas a ajuda das máquinas também chega aos processos administrativos. Neste caso, a expressão refere-se não a engenhos físicos mas a algoritmos. É o caso de um tão importante e presente na Simoldes que teve direito a nome – um nome humano. “Temos a robotização de tudo que é processos”, explica Domingos Pinto, incluindo o tratamento de encomendas. “Temos a Sara Robô – não é um robô físico, é um ‘software’, um algoritmo -, que trata desde processos de viagem a processos administrativos, de encomendas, de pagamentos”.
E do que mais é a Sara capaz? “Por exemplo, toda a comunicação que se faz com os nossos clientes através de EDI”, diz, referindo-se à sigla para a expressão inglesa “Eletronica Data Interchange”, que se refere à partilha eletrónica e automatizada de documentos de negócio entre empresas, como por exemplo ordens de compra, pagamentos, envios ou faturação, entre outras. “Nós temos toda a informação, como a quantidade ou a morada. A Sara Robô processa-a, inicia as encomendas necessárias para os fornecedores, emite todos os dados necessários para as fábricas, ao nível de quantidades, que dão entrada no nosso sistema, e depois faz – não diria que é de forma totalmente autónomo, mas faz – uma série de preparações, de planeamento de trabalho”.
É, na prática, um robô que, de alguma forma, ajuda na gestão. Nas suas tarefas inclui o planeamento de trabalho – o da restante equipa de robôs. “Depois, dentro da fábrica, temos todo o processo de robotização do processo físico em si e aí, também temos os tais robôs colaborativos a ajudar-nos a tratar as características de qualidade do produto”. A responder, no fundo, às indicações da Sara Robô.