Distinguida com o prémio na categoria Robótica e Aeroespacial, a empresa desenvolveu a Matrix Flow Line, uma linha de montagem que substitui os tapetes tradicionais por robôs móveis colaborativos. A fábrica inteligente combina flexibilidade, eficiência energética e tomada de decisão autónoma em tempo real.
in Jornal de Negócios, por Susana Marvão, 14-10-2025
A West Horse Powertrain, também conhecida como Horse Aveiro, A Horse Aveiro foi distinguida com o Prémio Nacional de Inovação, na categoria Robótica e Aeroespacial, pelo projeto Power Electronic Box – Matrix Flow Line, uma iniciativa que marca, garante a empresa, uma rutura profunda com os modelos tradicionais de produção industrial. Desenvolvido na unidade da Horse em Aveiro, o sistema introduz uma nova geração de linhas inteligentes, baseadas em robôs móveis colaborativos e controlo digital total, que colocam Portugal no mapa da Indústria 4.0.
David Borlido, operations, prototypes process engineering manager e communications manager da Horse Aveiro, disse ao Negócios que esta distinção tem “importância estratégica fundamental”, validando o trabalho de transformação tecnológica que a empresa tem conduzido. “Este reconhecimento valida a empresa como pioneira na implementação de tecnologias Indústria 4.0 em Portugal, reforçando a nossa posição competitiva no mercado global de componentes automóveis e abrindo portas para novas parcerias tecnológicas e oportunidades de investimento.”
O sistema Matrix Flow representa uma mudança estrutural na lógica de fabrico, substituindo a rigidez das linhas lineares por um modelo dinâmico e totalmente reconfigurável. Sobretudo pelo facto de “eliminar completamente os tapetes motorizados convencionais”, sublinha David Borlido. Em vez do modelo linear e sequencial, a Horse Aveiro implementou uma configuração matricial que recorre a MPC – Mobile Programmable Cobots, pequenos robôs móveis capazes de transportar produtos autonomamente entre os diferentes postos de trabalho.
Esta flexibilidade, explica o responsável, redefine a eficiência e a adaptabilidade da fábrica. “Esta inovação substitui o modelo linear sequencial rígido por um sistema matricial flexível, onde os MPC, robôs móveis colaborativos, movimentam os produtos de forma autónoma pela linha. Isto permite reconfiguração instantânea da linha para diferentes produtos, redução drástica de infraestrutura fixa e adaptabilidade total às necessidades de produção.”
Reduzir tempos mortos
A integração dos MPC e de sistemas de visão com inteligência artificial elevou o desempenho operacional a um novo patamar. Segundo David Borlido, estes robôs móveis “revolucionam a eficiência através da redução de tempos mortos entre estações, da flexibilidade para diferentes variantes do Power Electronic Box e da otimização automática de percursos baseada em algoritmos de inteligência digital.”
Capazes de operar continuamente, os MPC incorporam ainda mecanismos de manutenção preditiva que antecipam falhas e maximizam a disponibilidade da linha. “Os MPC têm capacidade de operar 24/7, com manutenção preditiva integrada”, reforça David Borlido, sublinhando que esta autonomia contínua representa um passo decisivo na consolidação da fábrica inteligente.
O projeto Power Electronic Box – Matrix Flow Line vai muito além da automação física, trazendo consigo a digitalização completa da produção através de um digital twin, ou “gémeo digital”, que espelha em tempo real cada operação da linha. David Borlido explica que o digital twin replica virtualmente toda a produção do Power Electronic Box, “permitindo simulação prévia de alterações de produto sem parar a produção, otimização contínua de fluxos e tempos de ciclo e manutenção preditiva dos MPC baseada em dados reais.”
Na prática, esta réplica virtual tem por objetivo testar configurações e prever resultados antes de qualquer intervenção no chão de fábrica, reduzindo “drasticamente”, adjetiva a empresa, o risco de paragens e maximizando a eficiência. O sistema recolhe e analisa continuamente dados dos robôs móveis e dos postos de trabalho, otimizando fluxos logísticos e tempos de ciclo com base em simulações constantes.
Os resultados desta integração tecnológica são tangíveis, “impressionantes e concretos: cerca de 50% de redução no consumo energético (dado confirmado do projeto), eliminação completa da infraestrutura de tapetes transportadores motorizados, redução significativa do espaço ocupado pela linha e menor necessidade de manutenção mecânica”, afirma o responsável.
Baixar o consumo energético para metade
A redução de 50% no consumo energético, aliada à menor ocupação física (menos 25% de área necessária e 30% menos infraestrutura) traduz-se em ganhos operacionais diretos e em menores custos de manutenção. Com menos componentes mecânicos sujeitos a desgaste, a fábrica torna-se, na visão da empresa, simultaneamente mais eficiente e mais sustentável.
Apesar do elevado grau de automação, os colaboradores humanos continuam a ter um papel central no funcionamento e evolução da linha. David Borlido sublinha que “a transição para a linha Matrix Flow envolveu os colaboradores como parceiros fundamentais.” A empresa investiu em “formação especializada em programação e supervisão de MPC, desenvolvimento de competências em análise de dados do digital twin, requalificação para funções de maior valor acrescentado e participação ativa no design e otimização dos processos”, enumera David Borlido, reforçando que a transformação digital foi também uma transformação humana.
Essa combinação de tecnologia e capacitação já se reflete nos resultados. “A utilização do gémeo digital da linha matricial para fazer simulações e otimizar o processo da linha matricial, associada ao aumento de competências dos nossos técnicos, permitiu aumentar a produtividade em 20%”, confirma o responsável.
A linha Matrix Flow posiciona a West Horse Powertrain como referência mundial. A própria linha soma as suas decisões com base no passado e no que está a acontecer em tempo real.
David Borlido, Operations Prototypes Process Engineering Manager da Horse Aveiro
Com o Matrix Flow Line, a Horse Aveiro quis igualmente demonstrar que a digitalização e a automação colaborativa não substituem as pessoas, mas elevam o seu papel dentro das fábricas inteligentes, unindo eficiência, sustentabilidade e inovação no mesmo fluxo produtivo.
Nas palavras de David Borlido, mais do que uma inovação de engenharia, o projeto tornou-se um ativo estratégico que reposiciona “a West Horse Powertrain como referência mundial.”
Na vanguarda da indústria 4.0
Segundo o responsável, este avanço coloca ainda Portugal “na vanguarda da Indústria 4.0, conforme reconhecido no prémio, atrai novos contratos pela capacidade de produção flexível, reduz custos operacionais mantendo a qualidade, facilita adaptação rápida a novos componentes e estabelece a fábrica como centro de excelência tecnológica do grupo.”
A fábrica de Aveiro passa assim a ser não apenas uma unidade produtiva, mas um centro de inovação e desenvolvimento, capaz de servir como modelo para outras operações do grupo a nível global. A versatilidade da linha, garante a empresa, permite-lhe adaptar-se rapidamente à introdução de novos produtos e componentes, assegurando competitividade e continuidade tecnológica. Mas chegar a este nível de maturidade industrial não foi simples. A implementação de uma linha totalmente digitalizada e colaborativa implicou superar desafios técnicos significativos. “Os principais desafios superados incluíram integração complexa entre MPC, sistemas de visão e digital twin, garantia de segurança funcional em ambiente colaborativo, sincronização precisa entre mundo físico e digital twin e estabelecimento de protocolos de comunicação entre sistemas heterogéneos”, explica David Borlido.
O esforço de integração entre múltiplos sistemas e tecnologias (robótica móvel, inteligência artificial e simulação digital) resultou num ecossistema produtivo unificado, onde cada elemento comunica em tempo real. A superação destas barreiras, explica David Borlido, confirma a capacidade da Horse Aveiro em desenvolver soluções de ponta e consolida o seu papel como referência europeia em automação avançada.
A empresa defende que, com o Matrix Flow Line, Portugal reforça a sua posição na cadeia global da mobilidade elétrica e inteligente, mostrando que a inovação industrial pode nascer em território nacional e ganhar escala mundial.
Versatilidade para além do automóvel
A versatilidade da tecnologia desenvolvida em Aveiro abre horizontes muito além da indústria automóvel. David Borlido enfatizou ao Negócios que esta tecnologia “tem potencial de replicação (esta vertente dedicada a produtos de baixo volume e peso) em indústria eletrónica, produção de componentes variados, setor aeroespacial, montagem de sistemas complexos, indústria farmacêutica, linha flexível para diferentes medicamentos, manufatura de equipamentos e qualquer setor que requeira flexibilidade e eficiência energética.”
A empresa parece não ter grandes dúvidas de que a capacidade de adaptação a diferentes tipos de produção – de equipamentos de precisão a linhas farmacêuticas – faz da Matrix Flow uma solução escalável e transversal, pronta para responder aos desafios da nova era industrial.
O êxito do projeto cria, naturalmente, uma nova ambição tecnológica. “Com base no sucesso da Matrix Flow, os próximos passos provavelmente incluem expansão da tecnologia para outras linhas de produção, integração com sistemas de IA para otimização autónoma, desenvolvimento de capacidades de autoconfiguração, exploração de aplicações em economia circular e sustentabilidade”, revela o responsável.
O futuro da fábrica inteligente passa agora por alcançar um novo patamar de autonomia. “Obtenção de uma linha completamente gerida com base nos dados e autonomamente, sem intervenção humana (data centric). A própria linha soma as suas decisões com base no passado e no que está a acontecer em tempo real”, conclui David Borlido.