Automóvel, mobiliário, têxtil e produtos agrícolas são dos mais expostos ao mercado francês. Apesar de estar a perder peso, o país continua a ser relevante, com estes setores a conseguirem contornar o travão estrutural.
in Jornal de Negócios, por Paulo Moutinho, 15-09-2025
Não há setor mais exposto à economia francesa do que o automóvel, mas são vários aqueles que têm com este país uma relação forte. Tanto a exportação de veículos como a de componentes têm conseguido resistir aos sinais de enfraquecimento deste “motor” do Velho Continente, sendo que a mesma resiliência é visível nos produtos agrícolas. As sucessivas crises políticas gaulesas abalam, mas não assustam o tecido empresarial português.
A indústria automóvel é aquela que tem maior exposição ao acelerar, mas principalmente ao abrandamento da economia francesa, muitas vezes associado à estabilidade (ou falta dela) política. França já foi, contudo, um mercado mais representativo, continuando, ainda assim, nos lugares cimeiros. Os dados da ACAP mostram que aquele país foi destino de 21.300 veículos produzidos no mercado nacional até ao final de agosto.
Desde o início do ano até ao final de agosto, França foi o destino de 21.300 veículos produzidos em Portugal. É o quarto maior mercado.
França é o destino de 9,9% de todos os automóveis que saem das fábricas nacionais, com a Autoeuropa a ser responsável pela maior parte desses. O país está, atualmente, na quarta posição, fora de um pódio em que a Alemanha ocupa o lugar cimeiro, seguida de Itália e da Turquia.
Neste setor, maior ligação é aquela que existe por via dos componentes automóveis, sendo que estes estão em quebra. “As exportações diretas de componentes automóveis de Portugal para França, apesar de estarem a descer, têm uma performance melhor, entre 2019 e 2024, decresceram a uma taxa anual de 5,7%. As exportações portuguesas de componentes automóveis passaram dos cerca de 1,4 mil milhões de euros para pouco mais de mil milhões de euros”, diz José Couto.
“Ainda assim, o valor exportado de Portugal por cada veículo produzido em França, aumentou cerca de 20%, passou dos 630 em 2019 para 754 euros em 2024”, acrescenta o presidente do Conselho Diretivo da AFIA. “Isto é, as empresas portuguesas têm vindo a ganhar quota de mercado”, nota. “Este fator demonstra a competitividade e resiliência das empresas portuguesas”, atira.
Num ambiente adverso, as empresas portuguesas têm resistido e respondido aos desafios que lhes são colocados.
José Couto | Presidente do Conselho Diretivo da AFIA
José Couto nota que “num ambiente adverso, as empresas portuguesas têm resistido e respondido aos desafios que lhes são colocados”, sendo que a turbulência política em França será igualmente superado, assim como tem sido o das tarifas dos EUA. E tal só acontece porque tem havido investimento: “entre 2015 e 2024 as empresas portuguesas de componentes automóveis investiram mais de 7,3 mil milhões de euros, para manterem as fábricas ‘state-of-art’ e ecoeficientes”, conta.
Agricultura resiliente
O automóvel é, de longe, o setor que maior exposição tem a França, país que conta com uma das maiores economias da União Europeia, apenas superado pela Alemanha. Está destacado à frente de outros como o do mobiliário, que tem neste país o mercado principal de exportação, representando cerca de um terço das vendas totais, mas também o da cortiça, em que Portugal é o maior produtor mundial. E depois há o têxtil, setor que recentemente tem sido afetado por uma série de encerramentos de unidades fabris.
A instabilidade política em França pode ser um fator adicional de pressão sobre um setor que está já a enfrentar uma série de obstáculos, sendo que outro dos setores mais expostos a esta economia afasta impacto dos ventos de incerteza gauleses. Na agricultura não se sente sequer uma brisa negativa vinda de “um mercado muito relevante para as exportações nacionais e particularmente para o complexo agroflorestal”.
“A parceria comercial entre os dois países tem-se consolidado ao longo dos anos, assentando em fatores de ordem estrutural, que têm que ver com um histórico de trocas muito sólido e consistente sustentado pela complementaridade entre a oferta e a procura e pela robustez das próprias cadeias logísticas e de distribuição”, diz Luís Mira, lembrando que França está em segundo no “ranking” dos “nossos parceiros comerciais para este conjunto de produtos, quer em termos de exportações, quer de importações”.
“Estes fatores permanecem estáveis e não é expectável que se alterem no curto prazo, por motivos que se prendem com o funcionamento das instituições democráticas, mesmo que com ciclos eleitorais mais rápidos e menos previsíveis”, acrescenta o secretário-geral da CAP. Por agora, “a CAP não tem conhecimento, por agora, de qualquer impacto nas encomendas às empresas nacionais” por parte das empresas francesas.
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