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Componentes automóveis a um passo do reforço do lugar como motor do crescimento

Exportações: O sector bateu um novo recorde: pesa já 17% no total das exportações nacionais. Mas as guerras e os juros aconselham a alguma contenção. É preciso esperar pela confirmação no trimestre.

O Jornal Económico,  por António Freitas de Sousa, 19-04-2024


O quadro da economia global mantém-se volátil e os sectores especialmente vocacionados para as exportações têm de observar “alguma contenção face a resultados sazonais” que possam ser indicadores de uma melhoria das condições do negócio. É desta forma que José Couto, presidente da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA) comenta, em declarações ao JE, o facto de o sector de componentes automóveis ter atingido uma quota de 17% das exportações de bens transacionáveis. “Temos de esperar pelos resultados do acumulado do primeiro trimestre para podermos então ter mais certezas”, diz.

De qualquer modo, os 17% – que são o acumulado no final dos dois primeiros meses do ano – representam um recorde. Os valores finais de 2023 indicam – segundo dados fornecidos ao JE pelo secretário-geral da AFIA, Adão Ferreira – que o peso do sector nas exportações totais foi de 16,5%. Num momento em que as expectativas para o sector eram modestas, as exportações surpreenderam ao atingirem 1.111 milhões de euros em fevereiro de 2024, um aumento de 5,1% em relação ao mesmo mês do ano anterior – que compara com um crescimento geral de 2,3% verificado nas exportações totais.

No que diz respeito ao valor acumulado das exportações de componentes automóveis desde janeiro, verifica-se um acréscimo de 2,8% face ao período homólogo em 2023, tendo atingido os 2.200 milhões de euros nos primeiros dois meses de 2024. A AFIA especifica que, por região, a Europa concentra 89,4% (mais 2,3% relativo ao homólogo de 2023). O continente americano apresenta um crescimento de 20,9% nos dois primeiros meses do ano em relação ao homólogo de 2023, concentrando 5,6% das exportações de componentes automóveis. As regiões de África e Médio Oriente e da Ásia e Oceania, que têm respetivamente, 3% e 1,9% das exportações de componentes automóveis portugueses, apresentaram no acumulado até fevereiro uma queda de 4,6% e de 7,2%, respetivamente, face aos dois primeiros meses de 2023.

Condições a deteriorarem-se

O horizonte apresenta-se, porém, muito nebulado, segundo a análise de José Couto, que falou com o JE já depois do ataque do Irão ao território israelita. Para o presidente da AFIA, são cada vez mais diminutas as motivações dos consumidores para a compra de veículos. Em primeiro lugar, porque a mobilidade das mercadorias continua a ser a pior de que há memória. Mas também, em segundo lugar, porque o Banco Central Europeu (e em parte a Reserva Federal dos EUA) já mostrou que “não estão com pressa em começar a diminuir as taxas moderados”, o que tem um forte impacto não apenas “entre os consumidores”, mas também “nos investimentos das empresas”, que precisam de continuar a crescer. É nesse quadro que a AFIA tem em preparação uma espécie de ‘caderno reivindicativo’ (ver entrevista ao lado) que se prepara para dar a conhecer ao novo governo e particularmente ao ministro da Economia (e ao das Finanças), Pedro Reis.

Os dados da AFIA vêm mais uma vez em socorro de José Couto. A análise do destino das exportações por país revela que Espanha continua a afirmar-se como o principal mercado, representando 28,9% das exportações, seguido pela Alemanha, com 22,9% e França, que mantém o terceiro lugar com uma quota de 8,9%. O problema é que, do top3, dois dos mercados encontram-se em retração: Espanha (menos 1%) e França (menos 20,7%).

Em relação ao top15 de mercados clientes de Portugal, conclui-se que, entre janeiro e fevereiro, houve um aumento nas exportações de componentes automóveis portugueses em nove dos quinze países. Para além de Espanha e França, comportamentos negativos registaram-se na Roménia (-0,4%), Eslováquia (-36,4%), Bélgica (-1,6%) e Polónia (-14,4%). “Por contraste, o mercado sueco, que ocupa o 9.º lugar do top15, surpreendeu ao apresentar, no acumulado até fevereiro, um aumento de 84,8% de variação relativa”.

De qualquer forma, o sector não está disponível para baixar os braços: apesar de enfrentar desafios e cenários pouco entusiasmantes para o ano em curso, o que afetará as empresas negativamente, quer a nível nacional quer internacional, “tem encontrado formas de manter a sua competitividade mostrando-se um sector extremamente resiliente e de elevada adaptabilidade”.

 

 

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