Autoeuropa: um caso de sucesso na indústria automóvel

A Autoeuropa foi o investimento estrangeiro que se tornou no motor para as exportações.

in Revista Portugalglobal n.º 174 | AICEP, abril 2024


Com 4.851 trabalhadores e uma produção total de 220.100 unidades em 2023, a Autoeuropa é um caso de sucesso na indústria automóvel portuguesa e europeia. E é, até hoje, o maior investimento estrangeiro em Portugal.

A Volkswagen, a Ford e o Estado português assinaram, em julho de 1991, um contrato de investimento e em 1995 foi inaugurada a unidade de produção em Palmela onde desde então foram produzidos modelos como os MPV Volkswagen Sharan e Ford Galaxy e, recentemente, o T-Roc.

A unidade de produção de automóveis da Volkswagen Autoeuropa é uma das mais modernas e avançadas da Europa, seguindo os padrões europeus de segurança e proteção ambiental. Divide-se em quatro áreas de produção: prensagem, construção de carroçarias, pintura e montagem.

Em janeiro de 1999, o Grupo Volkswagen assumiu 100 por cento do capital social da Autoeuropa e a empresa passou a chamar-se Volkswagen Autoeuropa. Ao longo dos anos, têm sido celebrados diversos acordos de investimento entre a Volkswagen e o governo português, para a modernização de equipamentos, a formação de colaboradores e a instalação de novas infraestruturas de produção de modo a otimizar as linhas e métodos de produção.

Em 2007, um investimento adicional de 541 milhões de euros por parte da “casa-mãe” resultou em significativas reestruturações e melhorias tecnológicas, aumentando a flexibilidade da fábrica para a produção de diferentes tipos de veículos. Nesse mesmo ano, a Autoeuropa alcançou a produção de 1.500.000 unidades.

A introdução do trabalho por turnos, em 2018, marcou um novo capítulo para a Autoeuropa e permitiu a produção diária de 890 veículos, destinados principalmente aos mercados europeu e asiático.

A empresa representou 1,5 por cento do PIB nacional em 2022 e foi responsável por 75 por cento da produção automóvel em Portugal, produzindo 254.600 unidades. Mesmo com as adversidades de 2020, a Autoeuropa manteve-se na liderança das exportações portuguesas, sendo atualmente a maior empresa exportadora de bens no país.

O modelo T-Roc, made in Portugal, destacou-se como terceiro carro mais vendido na Europa em 2023, e o modelo mais vendido da Volkswagen. A produção deste modelo atingiu mais de 220.000 unidades em 2023, um aumento de 14 por cento comparativamente ao ano anterior.

A Volkswagen anunciou a venda de quase cinco milhões de veículos mundialmente em 2023, evidenciando um crescimento de quase 7 por cento e reafirmando o impacto significativo da Autoeuropa no mercado global.

 

 

 

Autoeuropa melhora pré-acordo de empresa para os próximos três anos

A Comissão de Trabalhadores e a administração da Autoeuropa chegaram hoje a um novo pré-acordo de empresa válido para os próximos três anos, que prevê aumentos de 6,8% e outras melhorias em relação ao pré-acordo de 09 de março.

in O Jornal Económico / Lusa, 26-03-2024


O anterior pré-acordo não chegou a ser votado pelos cerca de 5.000 trabalhadores da fábrica de automóveis da Volkswagen da Autoeuropa face a algumas reações adversas nos plenários, o que levou a Comissão de Trabalhadores a pedir nova ronda negocial, que resultou no novo pré-acordo, hoje anunciado.

O pré-acordo agora alcançado prevê um aumento salarial de 6,8%, tal como o anterior, mas assegura um aumento das percentagens dos aumentos mínimos para os próximos dois anos, que passam a ser de 2,6% em 2025 e 2026, (antes eram de 2% em 2025 e 2,3% em 2026).

O documento estabelece ainda que os aumentos a aplicar em 2025 e 2026 terão um valor mínimo de 50 euros ou 0,6% acima da inflação média do ano anterior, e mantém a majoração do prémio de objetivos anual até 50%, o que significa que cada colaborador poderá receber adicionalmente até um salário e meio em 2024, além de um prémio único a atribuir em 2025, pelo lançamento de um novo modelo que será produzido na fábrica da Volkswagen, em Palmela, no distrito de Setúbal.

O comunicado da Comissão de Trabalhadores salienta também que todos os trabalhadores vão ter um aumento mínimo de 200 euros no salário base até ao início de 2025, sendo que esse valor também se repercute nos subsídios de turno e nos complementos pagos pelo trabalho ao fim de semana.

Também em comunicado, a administração sublinha a importância de um acordo a três anos para a estabilidade da empresa e para a transição da fábrica da Volkswagen para o futuro, numa altura em que se verificam grandes mudanças no setor automóvel a nível mundial.

O novo pré-acordo deverá ser votado pelos trabalhadores nos dias 01 e 02 de abril, segunda e terça-feira, da próxima semana.

No ano passado, a Volkswagen Autoeuropa, um dos maiores exportadores nacionais, produziu um total de 220.100 automóveis T-Roc, único modelo em produção na fábrica de Palmela.

De acordo com o grupo alemão Volkswagen, o T-Roc foi o terceiro carro mais vendido na Europa em 2023.

 

 

Autoeuropa quer produzir 230 mil carros este ano, vai parar no verão para renovar a fábrica e dá prémio de €6000

Os trabalhos de adaptação da Volkswagen Autoeuropa, em Palmela, para a produção da versão híbrida do modelo T-Roc já começaram. Para este ano, os trabalhadores têm em cima da mesa uma proposta de aumento salarial de 6,8%

in Expresso, por Vítor Andrade, 14-03-2024


A fábrica da Volkswagen Autoeuropa, em Palmela, já estabeleceu o seu objetivo de produção para 2024: fabricar 230.550 automóveis do modelo T-Roc, apesar de ter de efetuar uma paragem técnica de cerca de seis semanas, sensivelmente a meio do verão. A meta implica um crescimento de 4,7% face às cerca de 220 mil unidades fabricadas em 2023.

O objetivo de produção para este ano não é o mais alto de sempre, no entanto. Em 2019 a fábrica portuguesa da Volkswagen produziu mais de 250 mil automóveis. Mas a fasquia para este ano está muito próxima do registo de 2022, quando a unidade de Palmela produziu 231 mil unidades, no seu segundo melhor registo de sempre.

PRODUÇÃO DE AUTOMÓVEIS DA AUTOEUROPA

Veículos fabricados por ano, em milhares

 

 

Regra geral, a fábrica de Palmela realiza uma paragem para férias no mês de agosto mas este ano, devido à preparação das instalações para a produção da nova versão híbrida do Volkswagen T-Roc, vai ter de fechar as portas por mais tempo, pois, segundo fontes da empresa, “vai haver alterações estruturais na fábrica”.

PREPARAR O T-ROC HÍBRIDO JÁ A PENSAR NO ELÉTRICO

Aliás, de acordo com as mesmas fontes, os trabalhos de remodelação da fábrica vão já deixar a linha de montagem apta para a produção do modelo elétrico que se seguir, embora sem datas calendarizadas.

Os trabalhos de adaptação da Autoeuropa já tiveram início, segundo aquelas fontes, a começar pela secção de pintura, que “vai ficar ainda mais amiga do ambiente”.

Ainda no âmbito das mudanças na linha de produção do Volkswagen T-Roc, a caminho da sua ‘hibridização’, os trabalhadores da Autoeuropa poderão beneficiar de um prémio, por objetivos, que pode ir até aos 6000 euros, no triénio 2024/26.

PRÉMIO DE 6000 EUROS A DIVIDIR POR TRÊS ANOS

Isso equivale a cerca de 2000 euros por ano, compensação que algumas fontes da empresa contactadas pelo Expresso consideram “muito significativa” e que se integra num pacote de negociações salariais (ainda sujeito a votação em plenário dos trabalhadores) que irá proporcionar um aumento de 6,8% já em 2024, com um aumento mínimo de 100 euros.

Para os dois anos seguintes também já ficou acordada uma atualização salarial de 2% em 2025 e de 2,5% em 2026, mas sempre na condição de, se a inflação disparar, ficar garantido que o aumento dos salários seja acompanhado com um acréscimo de 0,5%.

Estes aumentos garantem também que, se a inflação descer abaixo de 1,5% em 2024 ou de 1,8% em 2025, ou mesmo se for negativa, existe sempre um aumento de 2% e de 2,3% em 2025 e 2026, respetivamente.

AINDA HÁ CERCA DE 100 TRABALHADORES TEMPORÁRIOS

O Expresso apurou que, desde o início deste ano, foram já integrados 20 trabalhadores precários/temporários nos quadros da empresa, sendo que ainda há cerca de 100 nesta situação. Por outro lado, e segundo fontes da empresa, “vão ser desbloqueadas carreiras e níveis salariais”,

As mesmas fontes garantem que, para 2024, não estão previstas saídas de pessoal, a não ser alguns casos isolados devido à proximidade da idade da reforma.

Apesar de confrontada com o Expresso sobre uma data para o lançamento do novo T-Roc híbrido, a administração da Autoeuropa nada quis adiantar, por não haver, por enquanto, “nada de concreto”.

A Autoeuropa emprega cerca de 5000 pessoas, é a maior empresa industrial em Portugal e responde por cerca de 1,5% do Produto Interno Bruto nacional. Em 2023, apesar da paragem forçada devido à falta de uma peça fulcral para equipar os motores, a fábrica de Palmela produziu 220.100 carros do modelo T-Roc, tendo a Europa o principal mercado de destino.

 

 

Autoeuropa distinguida a nível internacional. Diretor-Geral da fábrica de Palmela quer atrair novos projetos do Grupo Volkswagen

A Volkswagen Autoeuropa foi distinguida pela primeira vez com o Automotive Lean Production Award na categoria OEM. A fábrica de Palmela foi reconhecida pela rapidez na implementação de projetos na área da digitalização e o mapeamento da cadeia de valor na produção (Value Stream Management).

in Executive Digest, por André Manuel Mendes, 20-11-2023


Para Thomas Hegel Gunther, diretor-geral da Volkswagen Autoeuropa, este prémio reconhece o trabalho das equipas da fábrica e reforça o posicionamento da unidade de produção de Palmela no seio da marca Volkswagen.

“Antes de mais, parabéns a toda a nossa equipa. Foi graças ao seu empenho que foi possível ganhar este prestigiante prémio. Este reconhecimento é também mais um passo no sentido de reforçar a nossa capacidade de atrair novos projetos por parte do Grupo Volkswagen”, afirmou o executivo.

De acordo com o júri deste prémio, “a implementação rápida e direta dos projetos possibilita uma transformação sustentável. A mudança de foco de melhorias individuais desempenhou um papel fundamental no aumento da produtividade. Através de uma análise macro do fluxo de valor, foram identificados como prioritários projetos voltados para a eliminação de constrangimentos e o aumento da eficiência global dos equipamentos.”

Thomas Hegel Gunther e membros da direção da Volkswagen Autoeuropa receberam este prémio organizado pela empresa de consultoria Agamus Consult e a revista de negócios “AUTOMOBIL PRODUKTION“, no dia 14 de novembro, na cerimónia oficial de entrega de prémios, que decorreu em Munique.

 

Autoeuropa vai retomar horário normal de trabalho já a 23 de outubro

“A direção da fábrica informa que a partir do próximo dia 23 de outubro será retomado o esquema de trabalho de 19 turnos semanais”, segundo a nota enviada aos trabalhadores a que o ECO teve acesso.

in ECO, por Mónica Silvares, 10-10-2023


A Volkswagen Autoeuropa vai retomar o horário normal de trabalho já a 23 de outubro: 19 turnos semanais de trabalho, com trabalho ao fim-de-semana, avançou a administração numa comunicação aos trabalhadores esta terça-feira.

“A direção da fábrica informa que a partir do próximo dia 23 de outubro será retomado o esquema de trabalho de 19 turnos semanais”, pode ler-se na nota enviada aos trabalhadores a que o ECO teve acesso. “Esta nova antecipação resulta do intenso trabalho de normalização das cadeias de abastecimento de peças levado a cabo pelas áreas de logística e da direção da Volkswagen Autoeuropa”, acrescenta a mesma nota.

Isto significa que o regime de layoff vai ser levantado já a 23 de outubro, antecipando em muito a data 2 de novembro. A empresa de Palmela deverá convocar trabalho suplementar para os feriados de 1 de novembro, 1 e 8 de dezembro, tal como o ECO avançou na segunda-feira, mas essa informação não consta desta comunicação aos trabalhadores. O objetivo é recuperar o tempo perdido.

O secretário de Estado do Trabalho disse que a informação que dispunha era de que “a totalidade da produção ainda” poderia “acontecer durante o mês de outubro, no final do mês, e já não só em novembro”, revelou Miguel Fontes, a semana passada, na Comissão de Trabalho, Segurança Social, juntamente com o secretário de Estado da Economia, Pedro Cilínio, na sequência de um requerimento apresentado pelo Bloco de Esquerda.

A fábrica de Palmela retomou a produção a 2 de outubro, depois de uma paragem iniciada em 11 de setembro devido à falta de peças provenientes de uma fábrica da Eslovénia afetada pelas cheias que ocorreram no país. Mas, os funcionários começaram por trabalhar apenas de segunda a quinta-feira. Ou seja, a Autoeuropa retomou a produção, de forma gradual, mantendo o regime de lay-off até 2 de novembro e sem laborar aos fins de semana até 12 de novembro.

Numa carta enviada aos trabalhadores, a que o ECO teve teve acesso, a administração comprometia-se a que a passagem ao regime normal, logo que normalizada a produção, seria comunicada aos trabalhadores “oportunamente através de carta ou correio eletrónico”.

Portanto, agora esta decisão vai ser revogada e a empresa alemã, a segunda maior exportadora nacional, vai levantar o layoff dentro de duas semanas e antecipando uma paragem que estava inicialmente vaticinada até 12 de novembro, ou seja nove semanas. Mas, depois de ter garantido o fornecimento de uma peça fundamental para o T-Roc junto de uma empresa espanhola e outra chinesa, a fábrica de Palmela estava a laborar em três turnos.

A Autoeuropa é uma empresa com grande impacto na economia portuguesa e que representa 1,5% do Produto Interno Bruto Nacional (PIB), tal como foi sinalizado pelo primeiro-ministro. A fábrica de Palmela é considerada também um “motor” das exportações nacionais, com os últimos dados disponíveis, referentes a 2021, apontavam que a fábrica de Palmela contava com mais de cinco mil trabalhadores e representava cerca de 6% das exportações nacionais.

 

 

Governo garante que maioria das empresas fornecedoras da Autoeuropa evitou despedimentos

Dos trabalhadores despedidos devido ao impacto da paragem da linha de produção da Autoeuropa, 329 recorreram ao IEFP e 48 já foram recolocados no mercado de trabalho

in Expresso, por Vitor Andrade, 04-12-2023


Três dias depois da retoma da produção na Autoeuropa, o Governo foi ao Parlamento explicar que, na sequência da paragem forçada a 11 de setembro, que afetou 30 empresas fornecedoras, entraram em contacto com o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) e com a Segurança Social 329 trabalhadores, dos quais 48 já foram recolocados no mercado de trabalho.

Esta informação foi adiantada por Miguel Fontes, secretário de Estado do Trabalho, que frisou ainda que a maioria das empresas afetadas se opuseram desde o início à “lógica dos despedimentos”, por terem a noção de que iriam ter enormes dificuldades em voltar a recrutar, assim que fosse necessário.

Miguel Fontes notou ainda que, no meio de toda a turbulência causada pela interrupção da produção, “alguns trabalhadores rescindiram os seus vínculos com a entidade empregadora e migraram para outros sectores de atividade.

Ao contrário das estimativas iniciais, que apontavam para uma paragem de nove semanas na Autoeuropa, os trabalhos foram retomados ainda que parcialmente já na passada segunda-feira, e espera-se que até ao final deste mês de outubro tudo volte ao ritmo normal.

30 EMPRESAS AFETADAS PELA PARAGEM DA AUTOEUROPA

Pedro Cilínio, secretário de Estado da Economia, que também esteve esta quarta-feira no Parlamento, precisou ainda que, nas 30 empresas fornecedoras afetadas pela paragem da linha de montagem da Autoeuropa, em apenas 18 o impacto foi superior a 25% da respetiva atividade.

Este responsável adiantou que, assim que foi anunciada a paragem pela Autoeuropa, o Governo lançou de imediato o desafio à indústria nacional de componentes automóveis para tentar promover um cenário em que possa haver mais fornecimento a partir de Portugal, para evitar, tanto quanto possível, “disrupções futuras” .

No entanto, também frisou que, no grupo Volkswagen, como noutros, “as compras são centralizadas na Alemanha”, ou seja, não é a Autoeuropa, por si só, que pode tomar decisões nesta matéria.

Da parte do Governo, o secretário de Estado do Trabalho sublinhou que, assim que se formalizou o recurso ao lay-off, “os serviços da Segurança Social deferiram todos os processos em tempo ‘mais ágil”.

SE O PROBLEMA É DA AUTOEUROPA, “PORQUE É QUE É A SEGURANÇA SOCIAL A FINANCIAR?”

Entretanto, o deputado do PCP, Bruno Dias, questionou “porque é que tem de ser a Segurança Social [através do regime de lay-off] a financiar esta paragem, quando deveria ter sido a empresa?”

Sobre os trabalhadores temporários, o mesmo responsável perguntou ainda aos membros do governo porque é que, sendo tão importantes – até porque já estão a ser novamente chamados -, “então porque é que não são contratados de forma efetiva para deixarem de ter vínculos precários?”

Ficou sem resposta às suas questões, e o secretário de Estado do Trabalho enfatizou o facto de o governo ter lançado recentemente um programa chamado ‘Qualifica Indústria’, que irá estar ativo até 31 de dezembro.

É um programa que “cria o quadro para, em períodos em que as empresas do sector verifiquem um decréscimo da atividade produtiva resultante de condições de mercado, imprevistas e fora da sua esfera de atuação, possa implementar projetos de formação sectoriais extraordinários e transitórios”, que contribuam para a modernização do sector industrial nas suas várias vertentes, aumentando as competências profissionais dos trabalhadores.

 

 

Autoeuropa retoma a atividade a 2 de outubro, mais de um mês antes do previsto

Após a paragem forçada a 11 de setembro, devido à falta de uma peça-chave para os motores do Volkswagen T-Roc, produzido em Palmela, os trabalhadores acabam de ser informados sobre o regresso antecipado à fábrica

in Expresso, por Vitor Andrade, 20-09-2023


“A direção da Autoeuropa informa que no próximo dia 2 de outubro será retomada a produção”, antecipando em mais de um mês o reinício dos trabalhos, face ao que estava previsto.

É com aquela informação que começa um comunicado enviado na manhã desta quarta-feira pela direção da Autoeuropa aos trabalhadores. No mesmo documento é dito ainda que “nesta fase, o número de turnos será menor que o esquema de trabalho habitual”.

Recorde-se que no final da semana passada a Autoeuropa já tinha admitido a reabertura da fábrica de Palmela antes do prazo inicialmente previsto, e que apontava para 12 de novembro.

“Importa salientar ainda que este arranque parcial [da fábrica] deve-se ao trabalho dos departamentos de logística e de compras do Grupo Volkswagen”, sublinha no comunicado desta manhã a direção da Autoeuropa.

A empresa explica ainda que os trabalhadores que estão em regime de lay-off “serão informados o mais brevemente possível sobre a data exata do seu regresso à atividade e da correspondente alteração do regime de lay-off”.

A paragem forçada da fábrica de Palmela a 11 de setembro ficou a dever-se à falta de uma peça, que é fornecida por uma fábrica instalada na Eslovénia, e que ficou inundada pelas fortes chuvadas de agosto.

 

 

Presidente da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA) no programa A Vida do Dinheiro, TSF / Dinheiro Vivo (com ÁUDIO)

A entrevista ao Presidente da AFIA, José Couto, foi gravada antes do anúncio da retoma da produção da Volkswagen Autoeuropa, para o início de outubro

 

“Temos de ter capacidade de mola. Paragem não pode travar capacidade de resposta à retoma de produção da Autoeuropa”

in TSF / Dinheiro Vivo, por Ana Maria Ramos (TSF) e Bruno Contreiras Mateus (Dinheiro Vivo), 16-09-2023


É a ideia defendida pelo presidente da AFIA, José Couto, mesmo antes de saber do comunicado interno da Autoeuropa, que antecipou para o início do próximo mês o regresso à laboração.

Ouça aqui a entrevista ao Presidente da AFIA:

 

 

 

 

José Couto: “Indústria portuguesa fornece 98% dos automóveis fabricados na Europa”

A entrevista ao Presidente da AFIA, José Couto, foi gravada antes do anúncio da retoma da produção da Volkswagen Autoeuropa, para o início de outubro

 

Para o presidente da Associação de Fabricantes Portugueses da Indústria Automóvel, as empresas nacionais do setor “mereciam” contribuir mais para a Autoeuropa, a fábrica da Volkswagen em Palmela

in Dinheiro Vivo / TSF, por Bruno Contreiras Mateus (Dinheiro Vivo) e Ana Maria Ramos (TSF), 16-09-2023


No balanço da primeira semana de paralisação da produção na Autoeuropa, por falta de uma peça fundamental para o T-Roc, José Couto, presidente do Conselho de Administração da AFIA, Associação de Fabricantes Portugueses da Indústria Automóvel, realça que o impacto é significativo nas empresas fornecedoras da fábrica da Volkswagen em Palmela, que tiveram de dispensar alguns trabalhadores e de colocar outros em lay-off. Após uma paragem inicialmente prevista de nove semanas, ontem a empresa avançou, numa nota aos trabalhadores, que vai retomar a produção no início de outubro, depois de ter garantido o fornecimento do componente em falta. José Couto adianta, no entanto, que a AFIA está a avaliar o impacto desta antecipação, já que o esforço feito para reduzir custos terá agora consequências na recolocação dos trabalhadores, num processo que poderá ser moroso.

Que impacto está a ter nas empresas vossas associadas a paragem da fábrica de Palmela, do grupo Volkswagen?
Contribuímos com poucos componentes para a Autoeuropa. Mas, no seu todo, serão à volta de 30 fabricantes que entregam direta e indiretamente componentes para o T-Roc [o modelo produzido] e, portanto, para a fabricação da Volkswagen. O impacto, mesmo assim, é significativo, porque a paragem da Autoeuropa determina também a paragem destes fornecedores – é uma situação em cadeia, um dominó. Temos desde empresas que vão parar a 100% a outras com um impacto na ordem dos 10% da sua produção. Estimamos que poderá haver cinco mil trabalhadores afetados. Não temos ainda a conta certa relativamente a trabalhadores que estavam contratados em regime de trabalho temporário porque, há um mês, a Volkswagen tinha uma expectativa de produção altíssima e, portanto, as empresas tiveram que contratar mais trabalhadores para responderem a essas necessidades, tiveram que lhes dar formação, capacitá-los para poderem trabalhar nas linhas. Mas todo este esforço, um mês antes, ruiu no final de agosto.

Avançou na imprensa que o impacto é importante, mas não é desastroso. O que significa?
Na AFIA temos dito várias vezes, e ao longo dos anos, que achamos que a Autoeuropa, que faturou no ano passado 3,7 mil milhões, é uma empresa de grande valor, tem no ranking das exportações portuguesas um lugar de grande relevo, mas as empresas portuguesas mereciam contribuir mais para a Autoeuropa. Portanto, quando eu digo que não é desastroso, é porque o efeito na produção, naquilo que é a atividade das 353 empresas que compõem o número de fabricantes de componentes nacional, isto terá um efeito estimado entre 1,8% e 2% na faturação. Por isso é que não é desastroso. Mas não é verdade que só a Autoeuropa tenha um efeito sobre as empresas. Como a indústria portuguesa fornece 98% dos automóveis fabricados na Europa, num ou mais componentes, isto significa que vamos ter um efeito também indireto pela paragem da fábrica que teve o desastre na Eslovénia. Poderá haver 250 veículos, marcas, e produtos a ser afetados por esta paragem. Portanto, vamos ter, mais tarde ou mais cedo, o reflexo em Portugal.

Isso tem um impacto enorme nas exportações também?
Tem um impacto enorme nas exportações, mais pelo lado da Autoeuropa, porque vai deixar de produzir entre 50 e 55 mil viaturas. O que significa que vamos deixar de exportar esses automóveis. Para a produção nacional, como eu disse, só a Autoeuropa, não estou a falar do resto da Europa, poderá ter um efeito de 1,8% ou 2%.

Falou há pouco dos 5 mil trabalhadores afetados, mas quando diz afetados, é pelo despedimento ou em condições de lay-off?
Não, essa é outra questão. Nove semanas [de paragem inicialmente previstas] ultrapassa o normal e, portanto, a primeira coisa que os empresários pensam é o que é que vamos fazer? Porque os custos de produção de dois meses parados são altíssimos e difíceis de integrar – põe em causa a atividade da empresa. A maior parte pensou logo no lay-off. E esta não é a solução ideal. O bom era poder fazer outras coisas com os trabalhadores e, nomeadamente, com os que contratámos há um mês, a quem demos formação, que estavam integrados neste momento, que fazem parte do processo já, e com os quais tivemos de rescindir contrato. E este é um trabalho que temos feito com o Ministério da Economia e com o Ministério do Trabalho, que se têm mostrado muito colaborativos na resolução, que é tentar encontrar uma solução para as empresas não entrarem em lay-off e não rescindirem contratos com os trabalhadores. Temos trabalhado em conjunto e têm aceitado discutir e participar em todo o processo.

As condições de lay-off aplicadas às várias empresas não são as mesmas…
Mas isso, no final, significa sempre paragem, não é? A indústria não pode perder essas pessoas, porque o investimento nelas, o nível de formação, de capacitação, é altíssimo. E se nós prescindimos delas, porque estamos a viver numa situação em Portugal de não termos mão-de-obra para várias atividades, nomeadamente para a indústria, rapidamente são integradas noutras indústrias e este é um prejuízo enorme.

E o Governo está a esse nível a apoiar…
O Governo tem-se mostrado disponível para ajudar, para encontrar soluções que possam apoiar as empresas, quer do ponto de vista de tesouraria, daquilo que é imediato. Para empresas que não vão trabalhar, que param mesmo, isto é um desastre. É que na indústria automóvel o investimento é uma forma de estar. Ninguém pode estar na indústria automóvel sem ter níveis de investimento altos.

Esse e outros assuntos vão estar em cima da mesa na reunião agendada para terça-feira com a ministra do Trabalho?
A prioridade é não perder trabalhadores. Segundo, temos de fazer face, do ponto de vista financeiro, a este desastre. Muitas empresas estão perante um problema grave, porque estão a pagar, por exemplo, despesas de investimento, mas também empréstimos que foram ajudas no tempo da covid e que estão neste momento a cair nas contas.

É possível aumentar a produção para compensar a paragem?
Acho que não haverá um aumento significativo. Repare que este é o automóvel estrela da Volkswagen, é o automóvel que mais vende e, portanto, estamos sempre no limite da produção.

E acha que teria sido possível evitar uma situação como esta? Ou de todo não seria possível?
A indústria automóvel tem um processo de verificação e de vigilância dos seus fornecedores muito competente. As indústrias de componentes, quer sejam fornecedores de primeira ou segunda linha, são sistematicamente vigiadas. São vigiadas como? Nas suas condições tecnológicas, manutenção, do ponto de vista financeiro. Agora, há uma coisa que é importante, é que isto é uma calamidade [as cheias que afetaram a fábrica do fornecedor esloveno]. É um evento que ninguém detetou.

Às vezes é pouco previsível antecipar a mitigação deste tipo de…
Mas vai haver mais, não é? Teremos de perceber que vai haver mais casos destes.

Os fabricantes portugueses para a indústria automóvel poderiam contribuir mais para a Europa? Teriam essa capacidade?
Nós dizemos isso há muitos anos. Os fabricantes de indústria automóvel têm uma característica importante: não param de procurar ser mais competitivos. O que é que isto traduz? Que o aumento da faturação e das exportações tem subido sempre. Nós temos crescido, até ao ano passado, mais ou menos a uma taxa média anual de 6%, quando a Europa não cresce em termos de veículos automóveis.

A Autoeuropa tem interesse que, no vosso caso, no universo de 350 empresas, possam contribuir mais para a produção?
Uma coisa é a Volkswagen, onde se decide, e outra é uma empresa instalada em Portugal. Isso faz parte do processo de organização da maior parte dos OEM [Fabricante Original do Equipamento, na designação em português]: há lugares de produção e há lugares onde se decide este tipo de coisa. Para integrarmos um processo de um produto, um automóvel, demora-se pelo menos três anos. Significa que se eu hoje pensar num automóvel, tenho um processo de três anos para integrar quais são os componentes e os fornecedores, onde vou comprar, onde não vou comprar. Portanto, dizer que vou entrar neste processo é de alguma complexidade.

Mas as empresas, no caso da Autoeuropa, são consultadas?
Em alguns casos são, mas em muito poucos. Esse trabalho foi feito pela AFIA para tentarmos perceber porquê. Uma das coisas que é importante é saber a razão para ficarmos de fora. Ninguém gosta de perder, não é? Se em vez de me comprar a mim, vão comprar ao meu vizinho, vou querer perceber porque é que o meu vizinho foi melhor do que eu. Este é um processo também de aprendizagem, de aprendermos a ser mais competitivos. Nalguns casos fomos preteridos por questões, provavelmente técnicas, noutros por questões de preço e noutros casos por questões de localização e de terem um conhecimento [prévio] sobre a empresa. Agora, nós estamos prontos para dar a conhecer o potencial que a indústria portuguesa tem, que estas empresas têm, darmos a conhecer esse potencial para podermos fazer parte do grupo de fornecedores que contribui.

Há também um desafio de futuro que já se vem assistindo em muitas fábricas, e a própria Autoeuropa também se está a preparar para isso, que tem a ver com a eletrificação do mundo automóvel. Têm discutido isso com a Autoeuropa, até como uma preocupação de poderem vir a ser fornecedores de novas peças e até nessa perspetiva do investimento e da formação que têm de dar a todas as empresas?
Nós não discutimos isso com a Autoeuropa. Nós apresentamos isso com humildade a todos os clientes. A parte da digitalização e da robotização é incontornável e, portanto, isso faz parte, é básico. Mas repare, este ano, as vendas da indústria automóvel de componentes em Portugal tem crescido 20%. Significa que estamos quer em novos modelos que estão a ser produzidos, quer nos antigos. Esta é uma discussão que fazemos todos os dias entre nós, porque quando o cliente vem ter connosco, não vem perguntar o que é que eu penso do futuro. Vem-me dizer assim: é capaz de fazer isto? E eu tenho de dizer que sou capaz e tenho competências internas para o fazer. Quer dizer, nós somos capazes de dizer que o futuro vai ter novas peças, com novas tecnologias, com novos materiais, que vai desde a estrutura ao software e nós somos capazes de produzir.

Há o perigo de, na espuma dos dias, a tecnologia substituir a mão-de-obra humana? Tem acautelado esta questão?
A intensidade de mão-de-obra é uma coisa que já abandonámos há algum tempo, porque se quisermos estar nas cadeias de valor neste processo, temos de vencer pela tecnologia, temos de ser competitivos a trazer a tecnologia. A questão é que temos 63 mil trabalhadores em 350 empresas na indústria automóvel e o nível de qualificação deles é muito mais alto do que o normal, porque há uma necessidade permanente de formação, de capacitação dos trabalhadores.

E há uma ameaça da fuga…
É evidente que se tivermos uma empresa ali ao lado que reconheça estas capacidades, provavelmente vem buscar pessoas. Portanto, esta necessidade da permanente formação é importante. E não se tem demonstrado que nós temos diminuído o número de trabalhadores. Há tarefas que serão substituídas, mas temos de criar também outras, outros trabalhos, outras necessidades internas para novos trabalhadores.

Tem falado frequentemente da questão da oportunidade. Acredita mesmo que todas as dificuldades geram oportunidades?
Acredito seriamente nisso. Nem é a palavra resiliência, mas a indústria automóvel tem demonstrado esta capacidade de se reinventar. Há bem pouco tempo eu estava muito preocupado em saber se tínhamos capacidade para estar no novo produto do automóvel. Saber se éramos capazes de responder aos desafios do novo produto. E o que é verdade é esta resposta do crescimento das exportações e das vendas em Portugal… no ano passado crescemos para 13 B [mil milhões de euros] de faturação. O que representou? Um aumento de 14% nas vendas. Foi um recorde. E este ano também estamos a crescer a dois dígitos.

 

 

Autoeuropa vai retomar produção já no início de outubro

A Autoeuropa vai retomar a produção no início de outubro depois de ter garantido o fornecimento de uma peça fundamental para o T-Roc junto de uma empresa espanhola e outra chinesa. De acordo com a agência Lusa, a informação foi comunicada esta sexta-feira em nota interna dirigida aos trabalhadores.

in RTP / Lusa, 15-09-2023


Na referida nota, a administração da Autoeuropa informa que foi possível encontrar outros fornecedores da peça em falta que tinha obrigado a empresa a anunciar uma paragem de produção de 11 de setembro a 12 de novembro.

“A direção da fábrica informa que desde a interrupção do fornecimento de uma peça fundamental na construção dos motores que equipam o T-Roc – entre outros modelos do Grupo Volkswagen – os departamentos de logística e de compras do grupo têm vindo a trabalhar de forma intensa no sentido de mitigar este impacto”, adianta a comunicação interna da fábrica da Volkswagen em Palmela, citada pela agência Lusa.

A Volkswagen Autoeuropa irá assim retomar a produção “no início do mês de outubro”.

“Subfornecedores existentes no portfolio do Grupo Volkswagen, entre os quais uma empresa chinesa e outra espanhola, serão responsáveis por assegurar o fornecimento parcial das peças”, acrescenta o documento.