Ainda hoje, a Volkswagen Autoeuropa representa o maior investimento estrangeiro feito em Portugal.
in Portugalglobal nº87, 30-05-2016
A sua instalação em Palmela, em 1991 – na altura uma joint-venture entre a Volkswagen e a Ford –, gerou efeitos muito positivos na economia regional e nacional. Desde logo, a criação de emprego, a qualificação de colaboradores e um peso muito expressivo nas exportações nacionais. Mas esta relevância não se esgota por aqui e traz consigo responsabilidades.
Ao longo de 25 anos, a existência da Volkswagen Autoeuropa tem permitido que muitas empresas ligadas à indústria automóvel se instalem em Portugal. Note-se o parque industrial adjacente à fábrica, no qual se instalaram 18 empresas que fornecem a Volkswagen Autoeuropa e que empregam mais de 2.000 pessoas. Mas a sua influência vai além da Península de Setúbal.
De facto, a presença de uma empresa do Grupo Volkswagen em território nacional motivou a implementação de fornecedores de componentes para grandes grupos da indústria automóvel em outras zonas do país. Por seu turno, e devido aos exigentes padrões de qualidade desta indústria, as empresas que já operavam em Portugal tiveram de se reestruturar e obter certificações ISO pela primeira vez, o que lhes conferiu capacidade para se candidatarem a processos de sourcing do Grupo Volkswagen e de outras empresas, nomeadamente das Original Equipment Manufacturing (OEM). Estas certificações permitiram que as empresas portuguesas tivessem oportunidades de negócio tanto como fornecedores de primeira linha (first tier) como subfornecedores (second tier).
No caso do Grupo Volkswagen, a certificação é muito exigente e impõe aos seus fornecedores um processo de qualificação que culmina com uma auditoria. Os níveis de excelência só sãoatingidos com o estabelecimento de objetivos específicos e com um trabalho de acompanhamento que vise a melhoria contínua. São também feitas avaliações aos fornecedores com o propósito de otimizar resultados e fluxos de trabalho. Esta tem sido a postura da empresa ao longo dos anos, pois os bons resultados advêm da cooperação e da partilha de responsabilidade no crescimento de todos.
Por seu lado, a Volkswagen Autoeuropa tem procurado exercer uma influência positiva junto do Grupo Volkswagen de modo a localizar a produção de componentes em Portugal. Este empenho em promover a interação com fornecedores e em potenciar o seu desenvolvimento reflete-se no facto de muitos deles terem alcançado a sua primeira nomeação como fornecedor do grupo Volkswagen, tendo projetado o seu negócio para outras marcas e fábricas do Grupo e expandido a sua localização para outros países europeus. Para isso, foi necessário aumentar a cadeia de valor, manter a capacidade de resiliência, a proximidade comercial e técnica dos centros de decisão do grupo e obter um estatuto de confiança, através da demonstração da qualidade.
Outra prova deste apoio é o aumento do volume de negócios para a indústria automóvel em Portugal que os novos investimentos da Volkswagen na sua unidade de produção em Palmela vão trazer. Este aumento do volume de negócios traduz-se tanto para os atuais fornecedores, que mais uma vez mostraram a sua competitividade e qualidade, como para empresas que receberam pela primeira vez uma nomeação para o grupo Volkswagen.
Existe ainda um setor de atividade que, por arrasto do desenvolvimento da indústria de componentes, e por ter demonstrado elevados níveis de qualidade, de competência técnica e de competitividade, tem aumentado o seu volume de negócios nos últimos anos com a indústria automóvel nacional e estrangeira. Trata-se da indústria de moldes. Inclusivamente assistimos recentemente a um fenómeno de criação de parcerias entre moldistas e a indústria de injeção que permitiu a angariação de mais negócios. Esta colaboração permite a integração vertical da cadeia de valor, constituindo um modelo de negócio que permitiria às empresas portuguesas angariar mais negócio junto das OEM.
Apesar dos grandes avanços, a indústria de componentes tem ainda potencial de desenvolvimento. Os desafios do setor automóvel e a estratégia da maior parte das OEM exigem, por parte da indústria de componentes, capacidade de desenvolvimento técnico, inovação, agressividade comercial e dimensão técnica e financeira que lhe permita ter capacidade de produção e de rápida adaptação à sua evolução tecnológica. Os próximos anos impõem a continuidade do empenho da Volkswagen Autoeuropa na capacitação de fornecedores, pois o sucesso da empresa depende também da solidez, dinamismo e sinergias criadas pela indústria nacional de componentes.