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Sunviauto “A ferrovia é a nossa aposta estratégica e temos grandes expectativas”

A Sunviauto conta com cinco décadas de trabalho e de posicionamento de vanguarda no fabrico de bancos para todo o tipo de veículos. A aposta mais recente é na ferrovia, com particular interesse nas áreas do metropolitano e elétrico e nos comboios de proximidade, com trajetos classificados como pequeno e médio curso. Numa altura em que o concurso para a aquisição de 130 novas composições ferroviárias está fechado, a Sunviauto assume que este é um setor estratégico e é lá que aplica a maioria do seu investimento, como detalha, nesta entrevista, o CEO, Angel Robleño.

in Valor Magazine, por Sara Freixo, 08-02-2024


A Sunviauto celebra os 55 anos de existência este ano. Olhando para a história da empresa e a forma como se adaptou aos novos tempos, que características a fizeram chegar até aqui?

Apercebemo-nos que possuíamos duas características que tornavam a empresa mais forte: a primeira é a nossa integração vertical. Em tempos, as principais OEMs do setor automóvel preferiam fazer uma integração vertical dos seus produtos e deixaram esta estratégia nos anos 80/90 e subcontratavam fora. A integração vertical é uma aposta estratégica que a Sunviauto continua a reforçar. Cada vez mais o objetivo é garantir a totalidade da cadeia de produção, no que nos for possível. Apesar de termos o custo estrutural mais elevado, esta decisão permite-nos diminuir grandemente os custos variáveis e controlá-los de forma eficaz. Outro ponto importante é que, apesar de o nosso core business ser os assentos – fazemos assentos para as várias áreas da mobilidade – temos uma grande diversidade de produtos. Por isso, estamos agora a reconhecer os nossos setores e a importância dos mesmos para a empresa, avaliando as diferenças que cada um tem, os recursos de que necessita, qual o tipo de aproximação ao mercado ideal para cada um. Este plano estratégico tem demonstrado resultados – em 2022, faturámos cerca de 28 milhões de euros, enquanto no ano passado aumentámos 40%, faturando 40 milhões de euros, aproximadamente.

Quão representativa e importante para a faturação da empresa é a área da ferrovia, atualmente? Como se prepararam para esta nova dinâmica do setor?

A ferrovia é uma das áreas de atividade da Sunviauto, onde desenvolvemos produto próprio, que exportamos em cerca de 95% dos casos. Somos uma empresa muito forte nesse setor, além de sermos uma empresa empregadora do concelho de Vila Nova de Gaia, da qual dependem 600 famílias. Fizemos uma aposta clara no setor ferroviário e temos também desenvolvido um nicho de mercado, relacionado com o metro e metro de superfície (tram). É um nicho de mercado que estamos a consolidar. É verdade que o mercado mais atrativo, do ponto de vista económico e de volume de negócio, é o comboio de proximidade (pequeno/médio curso). Foi justamente para esta distância que o Governo português adjudicou recentemente a compra de 130 comboios. A Sunviauto lançou, este ano, um produto novo, inovador, para este setor. Será também o destaque da Sunviauto na feira INNOTRANS, em Berlim, no próximo mês de setembro.

Que características tem este novo banco para comboios de proximidade?

Este banco foi construído com base nas informações que recolhemos dos nossos clientes, nomeadamente no que concerne às características mais procuradas, o que era importante alterar e quais os requisitos fundamentais a cumprir. Este é um produto construído com materiais sustentáveis e leves que permitem uma redução do peso. Além disso, os clientes também podem adaptar as filas dos comboios conforme a quantidade de passageiros em cada horário. Temos muita expectativa neste assento.

Uma empresa que produz produto próprio tem sempre a preocupação de proteger as suas criações. Têm patentes próprias no mercado?

Temos patenteada a nossa marca, enquanto Sunviauto, bem como as marcas dos assentos. Estamos a trabalhar em dois ou três produtos – que não posso revelar – porque incorporar o valor da patente seria importante para o nosso posicionamento, mas é muito difícil inovar em algo tão antigo como um banco deste género. A nossa vantagem é que, como trabalhamos em vários setores além da ferrovia, temos a possibilidade e capacidade de incorporar qualquer avanço positivo no setor ferroviário, fazendo a necessária adaptação.

A sustentabilidade é, também, um grande desafio para as indústrias. Que novos conceitos adotaram, para corresponder a parâmetros obrigatórios, ou de melhoria, dos vossos produtos?

Um dos desafios da sustentabilidade é o consumo de energia, que é muito menor quanto menos peso tiver o comboio. Por isso, o objetivo passa por reduzir ao mínimo o peso dos bancos. No setor dos autocarros, fomos os primeiros e somos os únicos a trabalhar com materiais de muito alta resistência mecânica, que são muito difíceis de processar, mas são mais leves, porque permitem utilizar menos espessura de material. Isso reduz o peso de forma drástica. Estamos a adaptar agora estes materiais à ferrovia, para tentar reduzir o peso e fazê-lo utilizando materiais mais sustentáveis. Incorporámos também materiais como o alumínio. Vamos continuar a eliminar materiais como polímeros, por serem mais contaminantes.

Foi recentemente fechada uma parceria entre a Plataforma Ferroviária Portuguesa e a Mafex. Que importância pode ter esta parceria para empresas nacionais que se dediquem a questões da ferrovia?

Espanha é um país com muita ferrovia. Portugal parou o seu investimento na ferrovia num momento financeiro difícil para o país e isso acabou por atrasá-lo relativamente aos seus congéneres. Esta parceria ajudará a recuperar e atualizar os comboios nacionais, com a ajuda de empresas espanholas com capacidade e tecnologia para produzirem comboios. Depois, uma segunda razão que explica a importância desta parceria é o facto de que, se queremos ir para a Europa de comboio, vindos de Portugal, temos de passar por Espanha, logo, tem de existir ligação ferroviária. E é muito melhor colaborarmos, para que esta alavancagem do setor ferroviário seja mais efetiva. Para as empresas portuguesas, em geral, será muito positiva esta colaboração e há expectativas muito interessantes.

O ano de 2024 e seguintes poderão trazer desafios inesperados. Parece-lhe que há cuidados que as empresas terão de ter nos próximos tempos?

Sim, claro, até porque há problemas que podem surgir de repente. No entanto, há questões que temos sempre de terem conta, nomeadamente o equilíbrio do balanço da empresa. Nunca podemos deixar que se desequilibre, pois uma dívida um pouco maior pode resultar numa dificuldade grande para a empresa, caso o mercado nos falhe; além disso, importa também contar com o desafio que está a afrontar a Europa atualmente – por anos, as indústrias alemãs e francesas lideraram a economia europeia. Agora, podemos assistir a um problema de fornecimento de componentes, uma vez que a China e os EUA estão numa tensão comercial crescente. A Europa precisa de ressurgir economicamente. Por último, algo que considero estratégico – a Sunviauto fornece empresas cujos líderes pensam muito no seu plano estratégico, que perdem muito tempo a delinear a sua estratégia de abordagem ao mercado e a preparar-se para ela. E isso para mim é fundamental, trabalhar com pessoas que sabem para onde vão e como querem lá chegar. Pensar muito na estratégia e valorizá-la muito não assegura o êxito, mas não pensar nela assegura o fracasso.

 

https://www.sunviauto.pt/pt

 

 

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