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Robôs portugueses equipam fábricas de automóveis

A inteligência artificial é o cérebro da Introsys, dos irmão Flores, que exporta para 12 países.

in Expresso, 24-01-2015

Luís e Nuno Flores criam sistemas de inteligência artificial que dão vida a robôs. E por isso criaram a Introsys-Global Control System Designers. A grande fatia da atividade passa por criar cérebros em máquinas que equipam sofisticadas fábricas de automóveis na Alemanha, Espanha ou Portugal. Ao todo, a firma vende para uma dúzia de países por onde estão espalhados mais de 2100 robôs Introsys.

São ‘braços’ desses seres inteligentes made in Portugal que têm fabricado carros como o Volkswagen Polo e Scirocco, Ford Transit, Audi Q3 entre outros. Os maiores clientes da Introsys são o grupo Ford seguido do grupo BMW. Na prática, os robôs soldam, colam e constroem a carroçaria consolidada dos automóveis. “O nosso core business é construir a maquinaria complexa robotizada, que depois é utilizada pelos nossos clientes para construir veículos. Mais especificamente soldadura de carroçarias, chamada body shop”, explica Luís Flores. Menos de 5% do volume de negócios diz respeito ao mercado português, onde se destaca a presença na fábrica da Autoeuropa, em Palmela.

Esta discreta empresa já foi premiada como PME Líder, PME Excelência 2010 e PME Excelência 2012. Conta fechar as contas relativas a 2014 com €13 milhões de faturação. “A Alemanha pesa 98%”, conta Luís. E espera chegar “aos €20 milhões de faturação em cinco anos”.

A Introsys dá emprego a 110 pessoas, a maioria da área das engenharias. “15% a 20% são mulheres e queremos melhorar a diversidade”. Tem trabalhadores alemães, indianos, espanhóis e romenos, como o Expresso comprovou na visita realizada à unidade industrial. As paredes estão pintadas em branco e azul, “replicando os ambientes fabris, para que os clientes de sintam em casa”, explicam os sócios. No mesmo local, está a ser “montada uma academia de formação para formar quadros certificados e acolher alunos que frequentam doutoramentos”, revela Luís.

Estes empreendedores investiram já mais de €700 mil só em investigação, “divididos em duas áreas: mobile robotics, que tem como objetivo desenvolver robôs móveis de serviço; e manufacturing, que tem como objetivo a melhoria contínua do processo de produção da empresa em sistemas de controlo para maquinaria pesada”.

Os primeiros passos

Luís afiança ter sido o primeiro português a trabalhar nesta área de robótica, para uma empresa parceira da Autoeuropa, através do primeiro robô construído para fabricar o modelo Sharan da Volkswagen. Já na Introsys, teve como primeiros clientes a Volkswagen Portugal e a Ford em Genk, na Bélgica. Hoje, “em várias construtoras, 30% a 40% da linha de produção fica nas nossas mãos”.

Luís tem 41 anos e Nuno 40 e dão corpo e alma a este projeto vanguardista. O mais velho é responsável de Engenharia e Desenvolvimento e o mais novo é o diretor-geral. Ambos iniciaram a carreira na indústria automóvel, na ASS, onde Nuno trabalhava na área da robótica e Luís em sistemas de controlo. E lembram que “a Introsys nasceu por iniciativa destes dois antigos alunos da Faculdade de Ciências e Tecnologia que identificaram um nicho de mercado altamente especializado, a realização de sistemas de controlo para maquinaria complexa, aproveitando a reestruturação e otimização que a indústria automóvel sofreu na década de 90, em que os modelos de negócios e de serviços foram repensados para cadeias de valor que assentam em grande especialização técnica e tecnológica”.

A microempresa que começou em 2002 na incubadora da Faculdade de Ciências e Tecnologia, na Costa da Caparica, é hoje uma PME de sucesso. Mas “os primeiros anos, de 2002 a 2009, foram muito difíceis, foi preciso fazer o caminho das pedras e trabalhar 16 a 18 horas por dia no chão da fábrica, 360 dias por ano. Além disso, o selo ‘made in Portugal’ ainda é penalizador em muitos países”, acrescenta Nuno. Em 2009 “percebemos que não bastava sermos excelentes tecnicamente, mas também era preciso gerir bem. Montámos uma gestão profissional para sermos admirados pelos alemães, até se tornarem os nossos maiores clientes”.

Luís diz, em jeito de brincadeira, “gosto muito da senhora Merkel!”. Os últimos mercados conquistados pela firma foram o México, onde nasceu a Introsys México, e a Índia. É a Nuno que cabe vestir a pele de embaixador expansionista e passa, pelo menos, dois meses por ano no estrangeiro, com o intuito de ganhar novos mercados. “A empresa cresceu 20% em 2014, comparando com o ano anterior, e podemos dizer que foi um dos três melhores anos de sempre”, avança Nuno. Hoje o coração do negócio “divide-se entre programação de robôs, conceção elétrica da linha de produção e inteligência de robôs”, explicam os empreendedores.

Espécie ‘homem-robô’

Além da indústria automóvel, Luís tem outra paixão que passa por “colocar a robótica móvel ao serviço da desminagem e de outras atividades humanitárias”, explica. Por isso, a Introsys desenvolveu o Introbot (na foto). “Esta máquina visa substituir o ser humano em situações de alto risco, como por exemplo em operações de desminagem ou em catástrofes ambientais, como derrames de petróleo ou acidentes nucleares. No passado, este robô poderia ter sido usado, por exemplo, nos escombros da catástrofe das Torres Gémeas”, assegura.

É uma máquina “criada para ambiente outdoor, quando há risco para o ser humano, é útil para a atividade dos bombeiros, da polícia de segurança pública, das forças militares e da segurança pessoal de individualidades, como o Presidente da República”, explica Nuno. “Apesar sua extensa aplicação e de já ter sido utilizado em projetos de defesa nacional, sabemos das limitações orçamentais que o Estado português tem, ou seja, temos de pegar neste produto e procurar mercado lá fora”.

Só no desenvolvimento do Introbot já foram investidos nove anos de atividade e €3 milhões. “Dentro dele está um doutoramento e três mestrados”, brinca Luís, ao falar do know how dos dois sócios (veja caixa). Luís está a concluir o doutoramento em cibernética na Universidade Nova de Lisboa.


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