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PSA de Mangualde já tem acesso a energia mais barata

Fabricante automóvel conseguiu ligação a um posto de alta tensão reduzindo os custos energéticos. Parceria com Vigo é protectora.

in Diário Económico, por Mónica Silvares, 07-09-2015

A fábrica da Peugeot Citroën (PSA) em Mangualde é a mais competitiva do grupo francês na Europa e agora vai ter uma ajuda adicional no capítulo da energia, já que passou a ter acesso a um posto de abastecimento energético de alta tensão.

Este foi um dos resultados do grupo de trabalho criado com o Estado português para encontrar soluções para a fábrica, ao nível da energia e das ligações ferroviárias com Vigo. “Do ponto de vista da energia houve um progresso. Já se deu acesso em termos de capacidade para usar alta tensão em Mangualde a um posto de abastecimento energético que é mais competitivo do que estava a ser feito. Temos de o reconhecer e agradecer ao Governo português por ter feito o necessário”, disse em entrevista ao Económico, o CEO do grupo PSA. Carlos Tavares há muito que batalhava na necessidade de reduzir os custos de energia em Mangualde, superiores em 40% às fábricas francesas, por exemplo.

“Foi uma questão de aproximação entre a rede de distribuição energética e a fábrica e de criar condições económicas para que esse investimento possa ser feito”, acrescentou Carlos Tavares, frisando, contudo que Portugal continua “a ser mais caro em energia do que o resto da Europa”. “Temos de olhar para a realidade tal como ela é. Podemos não gostar e considerar que é demagógica, mas é o que é”. Por isso, o CEO defende que “Portugal tem todo o interesse, a longo prazo, em encontrar fontes de energia sustentáveis, limpas e competitivas em custo”.

A competitividade de Mangualde – “que tem de continuar a trabalhar para permanecer no topo da tabela” – já lhe garantiu um novo modelo o Citröen K9, que será desenvolvido em conjunto com a fábrica de Vigo. Com um investimento de 48 milhões de euros, parcialmente apoiado com fundos comunitários, a fábrica tem assim assegurada a continuidade já que não fica reduzida aos modelos que actualmente produz (Peugeot Partner e Citröen Berlingo) e que serão descontinuados. Carlos Tavares defende a ligação entre Mangualde e Vigo, alegando que “esta parceria protege Mangualde”. Apesar de não excluir no futuro que possa haver um modelo único para a fábrica portuguesa, lembra que “seria errado pensar que isso protegeria Mangualde”.

Carlos Tavares recusa ligar a captação do novo modelo a um aumento de pessoal na fábrica. “Pode ter [um reforço de trabalhadores], desde que o mercado aceite bem o automóvel”, diz. E esse aumento “pode ser” feito com recurso a temporários, como já aconteceu com o terceiro turno, posteriormente dispensado (em causa estiveram envolvidos 280 trabalhadores e apoios comunitários).

Apesar das boas notícias, Carlos Tavares recomenda “cautela”, para que não se descanse sobre os louros obtidos. “Não quero que esta posição [topo da tabela dos mais competitivos] seja entendida como uma autorização para relaxarem”, alerta. A reestruturação do grupo PSA ainda não está concluída e Mangualde foi a principal responsável pela redução, em Portugal, da produção automóvel de 5,2% nos sete primeiros meses. “Ainda não recuperámos completamente da quebra brutal da procura de clientes”, explica Carlos Tavares, recordando que “Mangualde é um ponto de produção mundial”. “Estamos cerca de 20% abaixo do nível anterior à crise, o que é muito significativo”, frisa. Mas Carlos Tavares recusa a estratégia de baixar os preços dos carros só para alimentar os números.

“As empresas que venderam automóveis com lucros extremamente reduzidos estão agora em grandes dificuldades económicas e sociais”, defende o gestor. Os carros “têm de ser vendidos ao seu justo preço”, diz.

Quanto à ligação ferroviária entre as fábricas de Mangualde e Vigo – que aumentaria a competitividade já que dispensaria o recurso a camiões – “há todo um trabalho a ser feito, mas a mais longo prazo, que é a electrificação da rede ferroviária”, diz Carlos Tavares. “Desse trabalho ainda não vimos o resultado que necessita de um pouco de tempo, mas temos de continuar a fazer os esforços”, conclui.

Carlos Tavares recusa ligar a captação do novo modelo a um aumento de pessoal na fábrica. “Pode ter [um reforço de trabalhadores], desde que o mercado aceite bem o automóvel”, diz. E esse aumento “pode ser” feito com recurso a temporários, como já aconteceu com o terceiro turno, posteriormente dispensado (em causa estiveram envolvidos 280 trabalhadores e apoios comunitários).

Apesar das boas notícias, Carlos Tavares recomenda “cautela”, para que não se descanse sobre os louros obtidos. “Não quero que esta posição [topo da tabela dos mais competitivos] seja entendida como uma autorização para relaxarem”, alerta. A reestruturação do grupo PSA ainda não está concluída e Mangualde foi a principal responsável pela redução, em Portugal, da produção automóvel de 5,2% nos sete primeiros meses. “Ainda não recuperámos completamente da quebra brutal da procura de clientes”, explica Carlos Tavares, recordando que “Mangualde é um ponto de produção mundial”. “Estamos cerca de 20% abaixo do nível anterior à crise, o que é muito significativo”, frisa. Mas Carlos Tavares recusa a estratégia de baixar os preços dos carros só para alimentar os números.

“As empresas que venderam automóveis com lucros extremamente reduzidos estão agora em grandes dificuldades económicas e sociais”, defende o gestor. Os carros “têm de ser vendidos ao seu justo preço”, diz.

Quanto à ligação ferroviária entre as fábricas de Mangualde e Vigo – que aumentaria a competitividade já que dispensaria o recurso a camiões – “há todo um trabalho a ser feito, mas a mais longo prazo, que é a electrificação da rede ferroviária”, diz Carlos Tavares. “Desse trabalho ainda não vimos o resultado que necessita de um pouco de tempo, mas temos de continuar a fazer os esforços”, conclui.


Reestruturação do grupo Peugeot/Citröen não acabou

“A PSA tem todo o interesse em transformar-se num construtor automóvel mundial.”

A reestruturação do grupo PSA ainda não está concluída, diz Carlos Tavares.

O plano de reestruturação ‘Back in the race’, implementado pelo português quando assumiu a liderança do grupo Peugeot/Citröen, já está a dar frutos – no primeiro semestre os lucros regressaram (de 571 milhões de euros), algo que não acontecia desde 2011. Mas a empresa ainda está “num processo de optimização em que se tem de procurar em todos os sítios formas de trabalhar mais eficientes”. Carlos Tavares reconhece que a empresa tinha “uma organização muito vertical em que havia uma certa dificuldade em trabalhar de forma transversal” e que, no início do plano, “de reconstrução económica era claro que o número de empregados da empresa, em relação aos seus concorrentes, estava brutalmente mais elevado”. “Este era um dos elementos que tinha de ser corrigido e está agora a ser corrigido, embora não totalmente.”

Carlos Tavares sublinha que “a PSA tem todo o interesse em transformar-se num construtor automóvel mundial”. “Para isso temos de estar presentes em alguns dos grandes mercados em que hoje não estamos”, acrescenta. O grupo tem hoje “duas pernas: uma europeia e outra chinesa”, mas o objectivo é ter mais. “Ao estar presente num número mais alargado de mercados estamos a proteger a empresa”, garante. E dá como o exemplo a presença no mercado chinês que ajudou a compensar a crise na Europa “que quase afundou a empresa”. O objectivo da PSA é conquistar, este ano, 5% do mercado chinês.

Agora é a China que dá sinais de arrefecimento, tal como outros mercados emergentes. “Nuvens” que podem ameaçar o desempenho da PSA no segundo semestre, reconhece Carlos Tavares. “O que isto demonstra é que não existem situações estáveis. O mundo é caótico e só há duas formas de nos protegermos: estar presente em vários mercados mundiais e tentar ser mais competitivo no que fazemos. A meta agora é aumentar a eficiência das operações na China”, diz.

Com a entrada da Dongfeng no capital da PSA em 2014, o grupo está mais exposto à evolução da economia do antigo Império do Meio. Carlos Tavares reconhece que as sucessivas desvalorizações do yuan emagracem os lucros da empresa, no momento da sua conversão para euros. Mas também podem ser “uma oportunidade”, já que tornam mais rentáveis as exportações feitas a partir da China. Recorde-se que existe um acordo com a Dongfeng para criar uma nova plataforma na China para fazer carros do grupo do segmento B.


“Portugal não se pode dar ao luxo de ter instabilidade governamental”

O CEO do grupo PSA, Carlos Tavares, defende a necessidade de haver previsibilidade fiscal em Portugal – sob pena de se desincentivar os investimentos no país.

“Mudar brutalmente de direcção, no momento preciso em que a melhoria está a aparecer, pode não ser do interesse dos portugueses”, alerta Carlos Tavares. O CEO do grupo PSA defende a necessidade de haver previsibilidade fiscal em Portugal – sob pena de se desincentivar os investimentos no país -, de se introduzir um travão à dívida na Constituição, mas também de existir uma reflexão sobre a utilização dos dinheiros públicos, tendo em conta a elevada carga fiscal face aos restantes países da OCDE.

Há que reduzir a carga fiscal em Portugal?
A carga fiscal é o resultado do equilíbrio do Orçamento do Estado, por isso tem de ser avaliada em função da maneira como as despesas estão a ser utilizadas: na educação, na saúde, nas infra-estruturas. E estamos a falar de eficiência.

Isso leva à questão da eficiência do Estado e da reforma do Estado.
Essa é a pergunta essencial. Será que estamos a utilizar bem o dinheiro…

E estamos?
Não sei, isso são os portugueses que cá vivem que devem apreciar. Mas a questão deve ser colocada numa primeira etapa, numa comparação se o montante da despesa do Estado português face ao PIB está a um nível razoavelmente competitivo comparando com outros países da OCDE. Se estivermos a gastar mais, o que acho que é o caso, temos depois de compartimentar todas essas despesas e avaliar, se no domínio da educação, da saúde, das infra-estruturas da inovação, etc, estamos a utilizar bem o nosso dinheiro, de maneira eficiente.

Sempre defendeu previsibilidade fiscal. Como encara o recuo do PS em levar a cabo a reforma do IRC, uma reforma dada como um bom exemplo de um pacto de regime?
Prefiro evitar fazer comentários, sobretudo neste momento sobre a política portuguesa.

Mas é uma questão que afecta directamente as empresas.
Com certeza. Tendo em conta o peso da carga fiscal há uma direcção adoptada por Portugal, que considero positiva, que é reduzir o IRC. Em termos de previsibilidade, os investimentos que fazemos têm um retorno muito longo. Estamos a falar de uma perspectiva temporal na ordem dos nove a dez anos. Obviamente, a rentabilidade desses investimentos está muito dependente da carga fiscal. Se não der essa previsibilidade está a criar barreiras mentais para que essa decisão de investimento seja tomada. Isso é também um aspecto muito importante para as democracias europeias porque o ritmo de eleições é mais elevado do que as perspectivas de investimento das empresas. É necessário que os países compreendam que há necessidade de uma certa estabilidade e continuidade para que toda essa mecânica possa ser posta em marcha.

Os pactos de regime são fundamentais em áreas chave? E uma maioria absoluta?
Portugal é pequeno demais para se dar ao luxo de perder energia, inteligência, potencial em instabilidade governamental. Portugal não tem esse luxo. Temos sempre de andar para a frente e se possível não estar sempre a mudar de direcção todos os anos.

A sucessão de períodos eleitorais desviam-nos dessa trajectória?
Temos de olhar para isso de forma extremamente pragmática. No interesse dos portugueses que sofreram ao longo desse período de crise é necessário que haja uma certa estabilidade. Não que se diga que foi este ou aquele que ganhou. Mas para que os portugueses possam agora beneficiar de todos os esforços que foram feitos durante a crise, porque a melhoria se está agora a produzir. Portanto, mudar brutalmente de direcção no momento preciso em que a melhoria está a aparecer pode não ser do interesse dos portugueses.

Era útil introduzir na Constituição um limite à dívida pública?
Obviamente que sim. Como é uma situação que pode ter um impacto muito forte na geração dos nossos filhos ou dos nossos netos, moralmente, não temos autoridade para criar condições para que os nossos filhos e netos tenham de pagar a dívida da geração anterior.

Preferia que a maior competitividade fiscal fosse feita através da redução da TSU?
Não tenho conhecimento suficientemente detalhado do sistema fiscal português para lhe poder responder.


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