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Portagens, energia e ferrovia: as três condições para a PSA continuar em Mangualde

A fábrica da Peugeot-Citroën em Mangualde anuncia o futuro modelo que vai produzir dentro de um ano, mas recorda que há três condições para assegurar a continuidade da produção. A mais importante é ter, em 2018, uma linha ferroviária moderna a funcionar até Aveiro, com ligação a Vigo

in Expresso, por João Palma-Ferreira, 28-11-2016

A fábrica do grupo francês PSA-Peugeot-Citroën em Mangualde tem assegurado um investimento de 48 milhões de euros para poder produzir o modelo sucessor dos Peugeot Partner e Citroën Berlingo que lideram o segmento dos veículos comerciais ligeiros na Europa e em Portugal. Trata-se do novo K9 – a designação de código do projeto que ainda não recebeu os nomes comerciais definitivos – que deverá começar a sair das linhas de produção de Mangualde em 2018. Mas o diretor-geral da PSA Portugal, Alfredo Amaral, deixa um alerta: “isto não significa que o futuro de Mangualde esteja salvaguardado, porque se os principais fatores de competitividade não forem assegurados haverá outras fábricas do grupo que rapidamente captam a nossa produção”.

O primeiro dos fatores a que Alfredo Amaral se refere são as condições internas do mercado português para continuar a absorver uma parte da produção – 20% dos carros fabricados em Mangualde é o objetivo da PSA para as vendas em Portugal. Isso implica que seja revista a legislação sobre as classes de portagens porque o K9 tem uma altura dianteira superior à do atual modelo (Berlingo e Partner), o que o inclui no segmento de veículos de Classe 2.

“A tipificação dos veículos para efeitos de cobrança de portagens colocará o futuro modelo que queremos fabricar em Mangualde dentro da Classe 2, mas isso desmotivará o pequeno empresário a comprar um veículo comercial que lhe vai trazer um custo acrescido no seu trabalho diário, o que penalizará inevitavelmente as vendas do K9 no mercado português”, comenta Alfredo Amaral.

O segundo fator de competitividade relaciona-se com o acesso da fábrica de Mangualde à energia com preços mais baixos, o que depende do fornecimento de eletricidade em alta tensão, refere o responsável da PSA Portugal.

O terceiro fator – porventura o mais relevante – é ter uma linha ferroviária moderna que permita escoar facilmente a produção de Mangualde em direção à unidade da PSA em Vigo. Essa linha implica a circulação de comboios com 750 metros de comprimento entre Mangualde e Aveiro e a sua ligação seguinte até Vigo.

“Precisamos de ter a esta linha operacional em 2018 para conseguirmos trabalhar sem constrangimentos de forma a mantermos todos os fatores de competitividade que garantam o futuro da nossa fábrica de Mangualde”, refere Alfredo Amaral.

A apresentação do novo investimento de 48 milhões de euros na fábrica de Mangualde foi feita perante uma comitiva oficial liderada pelo primeiro-ministro António Costa, que integrou igualmente o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral.

Depois da recente visita oficial à fábrica da Renault em Cacia, onde foi anunciado um investimento de mais de 100 milhões de euros para a produção em Portugal da nova caixa de velocidades que será utilizada pela maioria dos veículos do Grupo Renault, e a seguir à inauguração de duas fábricas – em Paredes de Coura e em Viana do Castelo – que fornecem a PSA em Vigo, foi a vez de António Costa fazer o ponto de situação dos projetos para a fábrica de Mangualde.

A título pessoal, António Costa recordou a relação afetiva com os veículos franceses. “Os primeiros carros que comprei foram do Grupo PSA”, disse. Mas a nível oficial, o primeiro ministro afirmou que “Portugal tem futuro para a indústria automóvel”, incentivando os jovens a apostarem nesta área de formação técnica e superior.

Também referiu que o próximo Orçamento de Estado terá condições para aumentar em 20% o investimento publico, o que significa que vão avançar os projetos ferroviários que permitirão melhorar as acessibilidades do interior do país e tornar o transporte mais eficiente para a atividade industrial aí sediada, quer na ligação ao interland ibérico, quer nas ligações aos portos de Aveiro, Figueira da Foz, Leixões, Lisboa e Sines.

“A modernização da linha da Beira Alta tornará o interior mais próximo da faixa litoral e mais próximo do centro da Península Ibérica”, referiu António Costa, recordando que na zona fronteiriça de Portugal e Espanha há um mercado local de 6 milhões de habitantes, o que equivale a 60% da população portuguesa, que potenciará as suas atividades económicas com as novas acessibilidades ferroviárias.

Para quem vive no interior de Portugal, perto da zona fronteiriça, “faz sentido pensar no potencial dos 60 milhões de consumidores da Península Ibérica, ou até nos 300 milhões da União Europeia”, referiu António Costa, invocando o efeito multiplicador das ligações ferroviárias que o Governo pretende melhorar a curto prazo.

O ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, por seu turno, referiu que o sector automóvel reconhece que Portugal é um país adequado a novos investimentos, ao aumento da capacidade instalada e ao lançamento de novos modelos.

A “qualidade da engenharia portuguesa tem sido um fator decisivo para concretizar novos investimentos” no sector automóvel, tal como o “mérito reconhecido aos operários portugueses”, o que permite desenvolver projetos como o da “indústria 4.0” – que designa a robotização das fábricas – que está a ser apoiado pelo Ministério da Economia, referiu Caldeira Cabral. Aliás, a fábrica da PSA em Mangualde é um exemplo no sector, pois pretende ter a funcionar 70 robôs.

Durante a visita à fábrica, António Costa conheceu os líderes sindicais da unidade de Mangualde, que incentivaram o Primeiro-Ministro a criar condições ao relançamento do terceiro turno de produção, que foi suprimido há meses, estando atualmente a laborar com dois turnos, que produzem 220 carros por dia. “Precisamos do terceiro turno para criarmos mais postos de trabalho”, comentou o sindicalista.

 


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