“O futuro da indústria automóvel está condicionado por 3Ps: People, Planet e Profit”, afirmou ontem Erik Jonnaert, secretário-geral da ACEA, a associação europeia do setor, numa conferência promovida pela Associação Automóvel de Portugal (ACAP), à margem do Salão do Automóvel, que está a decorrer em Lisboa, até ao próximo domingo.
in Automonitor, por Álvaro Mendonça, 22-11-2017
O primeiro P, de People, refere-se às pessoas e à mudança do perfil do consumidor, com os mais jovens a optarem cada vez mais pela utilização do automóvel em detrimento da aquisição, com um crescimento acelerado da população mundial, que deverá atingir os 9 mil milhões em 2050, mantendo em ritmo de crescimento o mercado automóvel (sobretudo nas geografias emergentes) e com a urbanização, prevendo-se que em 2030 entre 3,5 e 5 milhões de pessoas vivam em cidades, o que levará a maiores condicionamentos de tráfego nas grandes urbes e a uma procura crescente por serviços de mobilidade.
O segundo P, de Planet, tem a ver com o desafio ambiental, numa indústria ainda muito dependente de motores de combustão alimentados por combustíveis fósseis. Com o acordo de Paris, sob a égide da ONU, os países signatários comprometeram-se com a metade de, até 2021. A limitar o aquecimento global a 2 graus centígrados. Em paralelo, a União Europeia a anunciou que até 2030, as emissões de gases para a atmosfera terão de reduzir-se 30% face aos níveis de 2005, ou 90% face aos de 1995.
Finalmente, o terceiro P, de Profit, relativo à necessidade de a indústria de manter lucrativa, com receitas superiores ais custos, para poder subsistir. Para isso, explica o secretário-geral da ACEA, o setor terá de aproveitar economias de escala, através de fusões e parcerias entre os grandes grupos mundiais, para enfrentar os enormes custos de investigação e desenvolvimento de novas tecnologias de conetividade, eletrificação e condução autónoma, estimados em cerca de 50 mil milhões de euros. Nesta equação entram ainda o execsso de capacidade da oferta na Europa, que afecta a rendibilidade, a incerteza sobre o impacto da saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit), e a dicotomia entre os padrões e normas globais e os cada vez mais presentes standards locais, como, por exemplo, o condicionamento ou mesmo a proibição de veículos com motores de combustão (sobretudo diesel), em alguns países e cidades.
Os 3P´s acabarão por impor no futuro, três tendências, explicou Erik Jonnaert: a mobilidade inteligente, com veículos conectados e autónomos, novos serviços de mobilidade, como o car sharing ou o ride hailling, e uma mobilidade mais ecológica e limpa, com sistemas de propulsão alternativos, como a eletricidade ou os híbridos. A conetividade e os veículos autónomos contribuirão ainda para uma menor sinistralidade rodoviária, com todas as vantagens daí decorrentes.
Tudo isto resultará numa mobilidade que reduzirá as emissões de gases em médias 20%, face aos níveis atuais, com menos tráfego e engarrafamentos, o que contribuirá não apenas para uma qualidade de vida melhor, mas também para uma maior eficiência e produtividade.
Este cenário exige, no entanto, regulação e investimento. A condução autónoma e a proteção das bases de dados necessárias para a gestão dos serviços de mobilidade, são dois campos que exigirão um novo quadro regulador. E a par com o investimento privado em novas tecnologias, também os países e as cidades terão de aportar recursos à criação de infraestruturas, não apenas de carregamento de baterias, mas de conetividade, de forma a tornarem possível a condução autónoma em certas vias.
A massificação dos veículos elétricos exigirá, por seu lado, uma melhor tecnologia das baterias, uma baixa dos preços, uma rede de postos de carregamento, e incentivos e apoios públicos à troca de veículos convencionais por alternativas com emissões zero, ou até mesmo a fixação de quotas mínimas de vendas de veículos elétricos, como aconteceu na China.