in Revista Indústria (CIP), n.º 136 / 137, outubro 2023
Artigo de opinião de José Couto, Membro da Direção da CIP e Presidente da AFIA
A Indústria Portuguesa de Componentes para Automóveis tem tido um comportamento relevante no contexto da indústria transformadora nacional, tem-se afirmado nos mercados internacionais através de um processo de modernização contínuo, que a posiciona num patamar altamente competitivo, capaz de ombrear com as empresas congéneres. São 350 empresas, que têm procurado ganhar posicionamento junto dos clientes, que empregam diretamente 63.000 trabalhadores. É uma atividade transversal, com uma grande diversidade de tecnologias, distribuindo-se por vários códigos de atividade, mas que têm como característica comum um grande enfoque na venda ao exterior, a procura sistemática de níveis de produtividade comparáveis aos seus competidores e uma competente organização.
As empresas Associadas da AFIA são uma amostra significativamente forte que nos permite referir que se tem verificado, ao longo dos últimos dez anos, um esforço sistemático para aumentar competências ao nível tecnológico e das equipas. Este investimento permanente tem produzido diferença junto dos clientes o que é visível no crescimento da produção nacional de componentes claramente acima da produção de automóveis na Europa, o nosso principal cliente. O ano de 2022 constitui o melhor ano de faturação, mais de 13.000 milhões de euros, com uma quota de exportação direta e indireta de 97%. O mercado espanhol contínuo a ter a maior expressão, seguido do alemão e do francês, mas há novos destinos no espaço europeu para as componentes aqui produzidas, porque os nossos clientes têm-se movido, instalado em países que oferecem condições mais competitivas. Há também que considerar o reforço da penetração nos mercados Norte e Sul americano.
O aparecimento de uma forte concorrência para captação de investimento da Indústria Automóvel por parte de países que procuram investir num processo de desenvolvimento industrial ou de reindustrialização, que tem chamado a atenção, com êxito, de construtores de automóveis e de fornecedores de primeira linha, não pode deixar de ser encarado como uma ameaça para a indústria de componentes do nosso país, quer para continuarmos a ser uma opção para novos investimentos quer na perspetiva do reforço dos investimentos já instalados. Ora tendo em conta a relevância da Indústria Automóvel em Portugal, em especial a indústria de Componentes que representa 5,4% do PIB nacional, 9,1% do emprego da indústria transformadora, 12,0% do valor acrescentado bruto da indústria transformadora, 14,0% das exportações nacionais de bens transacionáveis e 16,6% do investimento total da indústria transformadora, com o potencial de crescimento e inovação que lhe é reconhecido, não podemos subavaliar as ameaças que se apresentam, sobretudo de países com mais fácil acesso aos centros de decisão e de consumo, porque há o risco de perdermos posicionamento e o sector de produção de componentes para a indústria automóvel é estratégico e determinante para a produção nacional, para a criação de riqueza. É um conjunto de empresas que promove a investigação e o desenvolvimento de processos de produção, o que obriga a uma relação muito próxima com as universidades nacionais e internacionais e com centros de desenvolvimento de tecnologias, que tem preocupação de manter níveis de competências ajustados e diferenciadores, que procura captar talentos, que procura requalificar trabalhadores, que tem aumentado as compras no mercado nacional promovendo a valorização das cadeias de produção, através da construção de parcerias com um conjunto alargado de subfornecedores que tem que ser valorizado, por não ser despiciente.
O processo de expansão da Indústria de Componentes tem sido contínuo. A Indústria de Componentes para Automóveis desenvolve-se e ganha corpo desde 1960, tem mantido até aos dias de hoje um nível de investimento apreciável, que lhe permite crescer, representando seguramente no âmbito da indústria transformadora uma parte importante, que agrega as melhores tecnologias através de processos de vanguarda do mercado mundial, tendo, ainda, forte e importante capacidade de desenvolvimento de produto.
Queremos continuar a afirmar, como highlight, que se produzem em Portugal componentes para a quase totalidade dos modelos automóvel fabricados na Europa. Isto diz muito da importância destas empresas e do papel relevante que podem ter como exemplo e como provocadoras de arrasto no panorama da indústria transformadora nacional.