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A crise na VW atinge a Autoeuropa?

A Volkswagen prepara um pesado plano de corte de custos. José Couto, presidente da AFIA, e Vítor Andrade, do Expresso, analisam para o “Money Money Money” o estado da indústria automóvel europeia e as consequências para Portugal

in Expresso, por Amadeu Araújo, 08-11-2024


O grupo Volkswagen (VW) teve uma quebra brusca nos lucros e há vários sinais de alerta, que começaram a ser evidentes nos últimos meses, num momento em que os carros chineses ganham preponderância no mercado de carros elétricos. Na semana passada foi noticia­do um plano de corte de custos que inclui redução de salários e encerramento de três fábricas na Alemanha. O plano não foi oficialmente confirmado e foi conhecido por intermédio da representante dos trabalhadores. Para já, a indicação é de que não haverá qualquer efeito na Autoeuropa e que a fábrica em Portugal não está em risco. Contudo, o futuro é uma incógnita num sector com dificuldades. “A situação na Volkswagen é o espelho de tudo o que se passa na indústria automóvel europeia em geral”, afirma Vítor Andrade, coordenador de Economia do Expresso. A indústria europeia de veículos “ficou um pouco parada, à espera que a concorrência chinesa fosse fazendo o seu trabalho, e que hoje está há anos à frente da indústria dos países europeus”, sublinha. A VW, tal como outras construtoras, chegou a anunciar investimentos de dezenas de milhares de milhões de euros na eletrificação dos seus carros e na transformação de fábricas. Apesar destes planos, a indústria europeia foi suplantada pela concorrência chinesa, que “começou a inundar o mercado europeu de carros a preços bastante mais competitivos”, afirma. Um confronto comercial que levou o grupo VW, que tem à frente Oliver Blume, que acumula com a presidência da Porsche (principal acionista da Volkswagen), a notar “gorduras que vão ser cortadas” para não colocar em risco todo o grupo, segundo o jornalista. Quando a VW, com um peso de 7,8% no PIB alemão, está com problemas em termos de resultados e assume cortar custos e fechar fábricas, significa que está a vender menos carros, uma quebra de 63,7%. Com 115 fábricas, algumas prestes a fechar pela primeira vez na Alemanha, “algo que nunca aconteceu”, salienta o jornalista. José Couto alerta que “Portugal vai sair magoado desta reformulação”, sobretudo a indústria dos componentes, que fornece, direta e indiretamente, o grupo VW. Perdas que o presidente da Associa­ção de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA) estima em €1,2 milhões, que “é indiferente ao facto de a fábrica em Palmela se manter exatamente na mesma ou não”. Com a indústria de componentes avaliada em €15 mil milhões e a China a produzir mais viaturas do que o resto do mundo, a alteração na VW vai implicar uma redução de custos de produção, “com fecho de fábricas, redução de salários e supressão de benefícios sociais”. Maiores sacrifícios nas fábricas fora da Alemanha e um problema para todos os construtores: “Estamos a importar veículos mais baratos do que aqueles que produzimos na Europa”, constata José Couto. A Europa, assinala ainda o responsável da AFIA, “tem um problema de competitividade sério”, e diminuir a atividade significa “conti­nuar a deixar que os chineses evo­luam neste processo”, incluin­do na mobilidade elétrica, “com uma guerra de tarifas, porque, de facto, os preços praticados na Europa não conseguem competir minimamente com os dos carros que vêm da China”, concorda Vítor Andrade.
NÚMEROS
  • 684 mil é o número de trabalhadores que o grupo VW emprega nas 115 fábricas que tem espalhadas por todo o mundo
  • 322 mil milhões de euros foram as receitas do grupo VW em 2023

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