CENÁRIO É POUCO PROVÁVEL
in Vida Económica, 31-05-2019
Uma rápida evolução para um cenário de eletrificação a 100% do mercado automóvel europeu, algo que está distante, dado que em 2018 os veículos elétricos representaram 2% de quota das vendas na União Europeia, teria impacto no emprego da indústria portuguesa de componentes para o setor automóvel a rondar 8%, ou seja, 4400 postos de trabalho, avisa a Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel
(AFIA).
“A indústria portuguesa de componentes assegura emprego direto a mais de 55 mil pessoas. Segundo estimativa da AFIA, este cenário radical de 100% de veículos elétricos (não híbridos) levaria ao encerramento de empresas ou à diminuição de volume de produção que resultariam na eliminação de cerca de 4400 postos de trabalho”, indica a
associação, em comunicado.
A AFIA salienta que os agentes económicos e políticos devem procurar “vias para transformar a descarbonização dos transportes terrestres numa oportunidade para a indústria e para a sociedade em geral”.
“Combustão interna continuará dominante”
A União Europeia aprovou, há poucos meses, novas normas que limitam as emissões de CO2 para os novos veículos de passageiros. Redução de 15% de CO2 até 2025 e 37,5% em 2030, por comparação com os limites de emissões permitidas em 2021. Igualmente se impõe que, a partir de 2025, 15% dos novos ligeiros de passageiros
tenham emissões baixas ou nulas, pretendendo-se que após 2030 aquela quota suba para 35%.
Desde a AFIA indicam que, “independentemente dos incentivos dos diferentes governos europeus à aquisição dos veículos elétricos, no curto prazo, os veículos com motores de combustão interna (tradicionais ou híbridos) manter-se-ão dominantes”.
A associação industrial defende que a evolução do mercado dos veículos elétricos dependerá de vários fatores, tais como “o preço do petróleo, o custo da eletricidade, o preço das viaturas elétricas, a sua autonomia, a disponibilidade de meios (públicos e privados) para carregamento das baterias, a velocidade de carregamento, a aceitação pública deste tipo de mobilidade, a tipologia de veículos a serem colocados no mercado e as normas europeias sobre emissões de CO2”.
A resposta aos desafios que esta nova regulamentação traz terá de ser dada “pelos construtores de automóveis e respetiva cadeia de fornecedores, que terão que efetuar um considerável esforço de investimento” em novas tecnologias para tornar a mobilidade mais limpa. A indústria automóvel europeia investe anualmente mais de 50
mil milhões de euros em inovação, o que a torna, acrescenta a AFIA, “o principal investidor em Investigação e Desenvolvimento da União Europeia, com um peso relativo de 27% do total do investimento”.
Transporte rodoviário “responde” por 16% das emissões
A indústria automóvel (construtores e fornecedores, incluindo a cadeia de fornecedores portugueses) está, segundo a
associação, “comprometida com as metas de Paris” para mitigar os efeitos das alterações climáticas, pretendendo cumpri-las fazendo uso de todo o seu conhecimento e inovação.
A AFIA destaca, contudo, que é “um equívoco” assumir que o aquecimento global tem como principal causa os veículos automóveis, já que, globalmente, “o transporte rodoviário é apenas responsável por cerca de 16% das emissões de CO2”. Fornecimento de energia (44%), indústria e construção (18%), utilização de combustível para outros fins (18%), transporte não rodoviário (4%) contribuem mais.
“Todas as fontes de emissões de CO2, e não apenas os automóveis, deverão ser otimizadas para se conseguir reduzir o problema”, defende a associação.