Saúde, alimentar, moldes, construção, automóvel e Tl são as apostas
O Governo vai assinar na próxima semana pactos com seis sectores para dinamizar a atividade e, acima de tudo, tentar a acelerar as exportações.
in Expresso, por João Silvestre, 23-03-2019
São os primeiros seis “clusters de competitividade identificados pelo IAPMEI” de um conjunto de mais de 20 que estão igualmente a ser acompanhados e que, em breve, poderão ter pactos semelhantes. Estes acordos liderados pelo Ministério da Economia e pelo IAPMEI envolvem outros ministérios em particular o do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, mas também outros sectoriais , universidades e politécnicos, empresas, associações empresariais e centros tecnológicos. Nesta primeira vaga avançam os clusters automóvel, das tecnologias de produção (fabricantes de máquinas e de informática e tecnologias da informação indústria), moldes e plásticos, agroalimentar, saúde e arquitetura, engenharia e construção.
“Se queremos continuar a crescer nas exportações temos que perceber que há desafios que tem que ver com qualificação dos recursos humanos, com a indústria 4-0, com o acesso a fontes de financiamento e que são diferentes de sector para sector”, explica o ministro da Economia em declarações ao Expresso. Pedro Siza Vieira diz que a ideia é “cobrir todos os sectores relevantes para a economia portuguesa” e que, nesta fase, se optou por sectores críticos. Cada um à sua maneira. Três deles por serem os maiores exportadores: automóvel, agroalimentar e moldes. As tecnologias de produção por ser um sector “fundamental para a competitividade da indústria”. A arquitetura porque está num mercado que vai crescer muito na Europa e em Portugal com a descarbonização e tem que se “posicionar para ser mais competitivo”. Já a saúde “tem um peso muito grande no emprego e um valor acrescentado bruto de cerca 20 mil milhões de euros”, além do “peso que tem na investigação e desenvolvimento (I&D)10% do total de despesa privada”. Além disso, “tem perdido capacidade de produção nos últimos anos, nomeadamente na área farmacêutica, e é um sector onde temos um défice comercial acentuado”. Há ainda, diz o ministro, oportunidades no turismo de saúde ou na investigação, como por exemplo a participação em ensaios clínicos.
Dos pactos resultarão medidas concretas, algumas comuns a todos, relacionadas por exemplo com a qualificação dos recursos humanos ou a necessidade de investimento em I&D e inovação, outras não. Porque há necessidades específicas de cada sector. “Em quase todos temos um tema muito importante, como a qualificação dos recursos humanos, sobre como atrair recursos para estas nossas industrias e sectores decisivos e como dar a formação adequada para responder à necessidade da nova economia”, refere Siza Vieira. Isso passa, por exemplo, por “trabalhar com as indústrias e com as instituições de formação profissional, de ensino técnico-profissional e ensino superior no sentido de desenhar oferta formativa adaptada”.
Outro ponto comum é apoiar a investigação: “Em praticamente todos os sectores estamos confrontados com o desafio da digitalização, da robotização e isso implica um grande investimento na inovação.” Há ainda um terceiro fator relacionado com a internacionalização. “Tem a ver com promoção externa, com maior visibilidade das marcas e produtos portugueses”, acrescenta Siza Vieira. Isso “tem de ser trabalhado com cada um dos sectores” e é feito em articulação com a AICEP.
Como funcionam os pactos?
Estes pactos, que incluem “apoios à formação profissional e ao investimento e inovação” e implicam também a utilização de fundos europeus, vão ter metas que são propostas por cada sector em termos de valor acrescentado bruto (VAB) que mede o contributo do sector para o PIB e de investimento em I&D, entre outras coisas. Por exemplo, no automóvel um dos objetivo é “posicionar o sector nos veículos elétricos e autónomos” e “a ambição do cluster é aumentar o VAB em 12%”. Na arquitetura, engenharia e construção tem a ver “com temas como a economia circular, maior eficiência e aproveitamento de resíduos”. Nos moldes, pretende-se aumentar o VAB em 9%.
O objetivo de fundo é levar as exportações até 50% do PIB na próxima década. Atualmente, o peso está em 44%. “Aquilo que nos pareceu é que, se queremos assegurar um crescimento sustentado da economia portuguesa e se queremos atingir o objetivo de uma década a crescer mais do que a União Europeia, temos que trabalhar a sério nos fatores de crescimento da produtividade: investimento; inovação e qualificação dos recursos humanos”, refere o ministro.
As discussões com outros sectores continuam. Tem havido reuniões com os clusters da aeronáutica, calçado, informática, têxtil, mar, entre vários outros. “Vamos continuar a discussão com os vários sectores para identificar estratégias e medidas e durante os próximos meses vamos continuar a fechar estes pactos”, remata Siza Vieira.
O QUE VALEM OS SEIS SECTORES
- Automóvel: 75 mil pessoas e um volume de negócios de €13,2 mi milhões (€12 mil milhões no exterior)
- Tecnologias de produção: 127 mil empregos, €11 mil milhões de volume de negócios e €3 mil milhões de exportações
- Arquitetura, engenharia e construção: mais de meio milhão de trabalhadores e um volume de negócios de €37,5 mil milhões
- Moldes, Ferramentas Especiais e Plásticos: 102 mil postos de trabalho e a quase totalidade do seu volume de negócios de €12 mil milhões vêm do exterior
- Agroalimentar: volume de negócios de €21 mil milhões, dos quais €16 mil milhões só na indústria alimentar e bebidas. Emprega 297 mil pessoas
- Saúde: tem 279 mil postos de trabalho e representa 10,5% do investimento empresarial em I&D. Tem um volume de negócios de €27 mil milhões