Em entrevista à Revista Portugalglobal, Joaquim Menezes conta a história da Iberomoldes e apresenta a sua estratégia de internacionalização, bem como os principais mercados externos de aposta ao longo dos últimos 44 anos, como o Brasil e a Tunísia.
in Portugalglobal, nº 117, Fevereiro 2019
Além disso, revela a importância do setor nacional dos Moldes para o nosso país, bem como o seu reconhecimento a nível internacional, afirmando que o setor de Moldes português é reconhecido como o mais dinâmico a nível mundial.
Enquanto presidente da EFFRA – Associação Europeia de Investigação para as Fábricas do Futuro, Joaquim Menezes fala da importância da sua nomeação para Portugal.
A Iberomoldes foi fundada em setembro de 1975, há cerca de 44 anos. Pode contar-nos um pouco da história da empresa, designadamente os factos que mais marcaram a vida e crescimento da mesma?
A empresa surgiu num período muito atribulado do nosso país, onde a sobrevivência da maioria das empresas, nomeadamente do setor dos Moldes, foi ameaçada. A incerteza política que se viveu nessa época abalou a confiança dos mercados externos e em particular do mercado americano, que era responsável por 70 por cento das exportações totais das empresas portuguesas do setor dos Moldes. Muitas encomendas foram canceladas, deixando as empresas com capacidade produtiva ociosa e algumas à beira da insolvência. Ou seja, numa fortíssima crise de sobrevivência.
Contudo, devido ao reconhecimento das nossas competências e aos fortes relacionamentos pessoais com empresas americanas, lançámos a Iberomoldes em contraciclo, precisamente no mercado americano. Desde a nossa fundação que a estratégia da empresa passou por transmitir confiança na capacidade técnica e produtiva e ampliar a visibilidade dos Moldes portugueses nos mercados externos que começavam a emergir, como por exemplo a Escandinávia. Curiosamente, a nossa primeira exportação consistiu num molde para uma grande empresa de artigos de casa na Suécia.
Qual, em traços gerais, tem sido a vossa estratégia de internacionalização para os mercados externos?
O nosso objetivo sempre foi alcançar o mundo, abrindo todas as hipóteses de interação e fornecimento aos clientes mais exigentes. Desta forma, percecionamos como concorrentes diretos as empresas de Moldes internacionais, nomeadamente alemãs, francesas e inglesas. A nossa estratégia de internacionalização nos mercados externos consiste na observação da competitividade e produtividade internacional, no sentido de garantir a nossa continuidade e sustentabilidade.
Relativamente ao seu processo de internacionalização, onde está a Iberomoldes presente e com que resultados?
Atualmente, com investimento direto, a Iberomoldes está presente no Brasil, com a IBER-OLEFF Brasil, que produz componentes cinemáticos para o interior dos automóveis. Contudo, ao longo dos últimos anos, o grupo já marcou presença em 10 países diferentes, como é o caso da Tunísia. Desde sempre, a internacionalização, com investimento direto e físico, esteve presente no trajeto empresarial da Iberomoldes. Ainda assim, nem sempre resultou, uma vez que é um desafio estruturalmente difícil para uma empresa com estas características e dimensão. Os requisitos são complexos e impõem uma estrutura humana exigente, multifacetada e aberta ao mundo, à multiculturalidade, à resiliência e a uma aprendizagem e adaptabilidade de acordo com ambientes e contextos muito particulares e desafiantes.
Qual é o fator crítico de sucesso para uma empresa como a Iberomoldes?
Resiliência e ambição são sem dúvida os fatores mais críticos, a par com a determinação na prossecução da estratégia traçada e com a capacidade de envolvimento com clientes, concorrentes, fornecedores e instituições
em projetos de interesse conjunto. Portugal é um dos maiores produtores de moldes a nível mundial.
Como tem sido a evolução deste setor a nível nacional e internacional?
O setor de Moldes em Portugal faz 75 anos em 2020. A melhor resposta que posso dar está bem patente em duas fotos expostas no átrio de entrada da empresa ABRANTES, que apresenta antiga realidade física da fábrica, diferenciando-se inteiramente da realidade atual. O layout e a capacidade tecnológica e produtiva da empresa estão de acordo com os modernos requisitos da indústria e usam as mais avançadas tecnologias existentes. Genericamente, a evolução do setor tem-se feito, par a par, com a evolução dos mais sofisticados processos de produção e com um assertivo e agressivo percurso de promoção, marketing e networking internacional. As últimas décadas, pós anos 80, têm sido particularmente ricas em iniciativas inovadoras e dinamizadoras para a visibilidade do nosso setor e das nossas empresas. O setor de Moldes Português, hoje em dia redenominado como “Engineering & Tooling”, está posicionado como o mais dinâmico a nível mundial. São os nossos concorrentes que o afirmam e reconhecem.
Globalmente, na sua opinião, como pode o setor dos moldes ser mais competitivo?
Mantendo a aposta nos fatores de competitividade, como a inovação e a produtividade, bem como o foco no mercado global e nos desafios de efetiva parceria com os seus clientes internacionais mais exigentes.
Como é que se estimula a criatividade e a inovação neste setor?
Atento à minha resposta anterior diria que o estímulo é “automático”, ou seja, no nosso setor, principalmente com a tipologia dos nossos clientes (algumas das mais inovadoras indústrias e empresas mundiais), os desafios de criatividade e inovação são permanentes.
Grande parte das nossas empresas têm vindo a evoluir e a crescer na cadeia de valor, sendo hoje parceiras ativas no codesenvolvimento e até na produção de sofisticados componentes para os novos produtos desses clientes.
Em março de 2018 foi nomeado presidente da EFFRA – Associação Europeia de Investigação para as Fábricas do Futuro. Quais são as principais áreas de atuação e objetivos desta associação? Qual é o balanço que faz deste primeiro ano?
A EFFRA foi criada há dez anos e ao longo destes anos tem conseguido estabelecer a nível europeu um relacionamento virtuoso, ativo e colaborativo entre a indústria, as universidades, as instituições de investigação e desenvolvimento, e as iniciativas e programas de desenvolvimento nacionais.
A associação apoia a Comissão Europeia e os Estados-membros no sentido de melhor implementar os diversos programas de investigação e desenvolvimento, nomeadamente de investigação aplicada. Importa também salientar que, nos últimos anos, o número de empresas interessadas na inovação e desenvolvimento industrial na Europa tem vindo a aumentar.
Na Assembleia Geral Anual, no dia 19 de março, será apresentado o “EFFRA Roadmap” para os próximos dez anos, um contributo importante para o desenho do Programa Quadro. Este documento é o produto final, resultado de uma ampla consulta prospetiva realizada nos últimos dez meses às mais diversas empresas e setores industriais, desde startups até às maiores empresas europeias. Dá ainda particular atenção às PME, tipologia principal não só das empresas nacionais, mas igualmente em todos os Estados membros da Europa.
Cada vez mais olhamos as “fábricas do futuro” como o conjunto da cadeia de valor e como ecossistema manufacturing, que abrange a gestão, a eficiência energética, a logística em amplo sentido, entre outros, em permanente atenção aos princípios da economia circular.
Qual é a importância desta eleição para Portugal? É este um indício de que Portugal começa a ser um interveniente de destaque nesta área?
Somos um país pequeno e, como tal, temos, ao nível da inovação, um trabalho muito consistente de vários atores.
Costumo dizer que existem “ilhas” de competência muito interessantes em Portugal, que a maioria das pessoas não conhece. Existem consórcios, seja nos Moldes, seja noutros setores, não só com empresas e todo o sistema
científico e tecnológico a nível nacional, mas igualmente com as melhores empresas e universidades europeias.
Ombreamos com os nossos parceiros internacionais sem qualquer complexo, e isso vê-se nos muitos projetos e trabalho de inovação que têm sido submetidos à Comissão Europeia e onde Portugal está muito bem posicionado. O interesse e a participação portuguesa têm vindo a aumentar, até porque os fundos nacionais tendem a ser escassos para as nossas ambições e para estarmos em pé de igualdade com outros parceiros de maior dimensão. Por isso, envolvemo-nos cada vez mais com consórcios europeus para disputar fundos europeus. A nossa contribuição a esse nível tem sido elevada.
Ao longo dos últimos anos, como tem sido o relacionamento da indústria dos Moldes com a AICEP?
Desde os “velhos tempos” do Fundo de Fomento à Exportação, nome que posteriormente foi substituído por ICEP e hoje AICEP, que a cooperação com as empresas e com a CEFAMOL se pode considerar exemplar e um modelo de boas práticas. Esta Revista não chegaria para listar e detalhar exemplos e as imensas iniciativas conjuntas que temos lançado e implementado ao longo das últimas décadas. Certamente que há sempre coisas a melhorar, mas na minha opinião, o relacionamento tem sido muito positivo, o que por si só, mais que justifica a continuidade, melhoria e incremento de projetos e atividades coordenadas.
IBEROMOLDES | Um caso de sucesso na indústria mundial de moldes
Fundada em 1975, a Iberomoldes é um grupo industrial português especializado em engenharia de desenvolvimento de produtos, moldes e fabrico de produtos e peças de plástico.
O grupo Iberomoldes disponibiliza soluções completas e integradas, completamente adaptadas às necessidades dos seus clientes, desde a engenharia de projeto e produto até protótipos de moldes e ferramentas especiais. Incluindo ainda a industrialização, produção e entrega global de produtos acabados, funções e sistemas completos, utilizando materiais termoplásticos e metálicos de liga leve.
Constituído por mais de 1.400 colaboradores e 12 empresas, espalhadas por três países – Portugal, Brasil e Alemanha –, o grupo exporta mais de 90 por cento do seu volume de negócios, de 108 milhões de euros, para vários mercados externos, nomeadamente Alemanha, Brasil, Bélgica e Espanha.
A Iberomoldes atua nos setores industriais mais avançados e exigentes, como o automóvel, o eletrónico, o elétrico, o aeroespacial, os dispositivos médicos, as utilidades domésticas, as embalagens e a relojoaria, tendo como clientes empresas líderes de mercado e mundialmente reconhecidas: Audi, Bentley, BMW, Continental, Curver, Daimler, Delphi, Faurecia, Jaguar, Johnson Controls, Philips, Samsonite e Volkswagen, entre muitos outros.
O fator chave de sucesso do grupo, capaz de o distinguir e diferenciar num mercado global altamente competitivo, é o enfoque no cliente e a aposta na excelência técnica, nas tecnologias avançadas, nos recursos humanos altamente qualificados, na inovação, no design e na qualidade dos seus produtos e serviços.
JOAQUIM MENEZES | Breve biografia
Nascido em novembro de 1946, Joaquim Menezes iniciou a sua atividade profissional na Indústria dos Moldes com apenas 16 anos de idade, em setembro de 1963, como estagiário na ANIBAL H. ABRANTES, empresa fundadora desta indústria em Portugal.
Engenheiro Técnico de Eletrotecnia e Máquinas, fundou a empresa Iberomoldes, em 1975, com Henrique Neto, tendo adquirido, em 2009, a posição deste na empresa.
Entre 1995 e 2016, foi presidente do CENTIMFE – Centro Tecnológico da Indústria de Moldes, Ferramentas Especiais e Plásticos de Portugal, na Marinha Grande, sendo atualmente o presidente do Conselho Geral.
No dia 1 de março de 2018, Joaquim Menezes foi eleito presidente da EFFRA – Associação Europeia de Investigação para as Fábricas do Futuro.
O atual presidente do conselho de administração do grupo Iberomoldes e da Iber-Oleff Portugal e Brasil é ainda presidente da ISTMA Europa – International Special Tooling and Machining Association, vice-presidente da ISTMA World, presidente da incubadora Open – Oportunidades Especificas de Negócio, presidente do Fórum ManuFuture Portugal, presidente da European Tooling Platform, vice-presidente da Pool-Net e membro do High Level Group da plataforma europeia EU-MANUFUTURE.
Em 2018, foi também agraciado com o título de professor Honoris Causa pelo Instituto Politécnico de Leiria.