Na perspetiva de Filipe Villas-Boas, Administrador do SLM Group
in Revista Fundição nº 284, Março 2018
INTRODUÇÃO
Não se restringindo ao automóvel, a fundição injetada de ligas de alumínio tem, no entanto, nesta indústria o seu principal cliente (com taxas mundiais a rondar os 80%).
Cliente impositivo em termos de condições de venda, impiedoso em questões de prazos de entrega e flexibilidade nas constantes alterações das quantidades solicitadas, exigente nos aspectos tecnológicos, de desenvolvimento de produto, de standards de qualidade, de ambiente, de segurança, mas também de responsabilidade social.
Resumindo, neste setor só consegue manter-se quem se moderniza permanentemente, quem é competitivo, quem assume o compromisso de querer ir mais longe na satisfação do cliente e, cumulativamente, a exigência sobre a pegada ecológica a nível global.
O MERCADO AUTOMÓVEL
O mercado automóvel mundial apresenta números da ordem dos 93 milhões de unidades, em 2017, e, com perspetivas de crescimento sustentado, prevê, para 2024, atingir os 109 milhões de veículos. O crescimento será mais significativo na região Ásia Pacífico, prevendo-se que a China, com um crescimento previsto de 22%, venha a deter uma fatia de 30% da produção, enquanto na Europa se prevê um crescimento moderado, de cerca de 9%, representando 22% da produção de veículos ligeiros. África aparece como um mercado em expansão, com potencial de crescimento a médio prazo, em países como Marrocos (com quota de produção em crescimento significativo), Argélia ou África do Sul.
É hoje inquestionável para todos os intervenientes que a indústria automóvel enfrenta mudanças profundas. Como vectores dessas mudanças, enumeram-se três factores principais que determinam as tendências da indústria automóvel:
- Fortes pressões para a redução das emissões de CO2 e de NOx;
- Emergência de um paradigma de economia de partilha de recursos na área da mobilidade;
- Emergência de novas tecnologias disponíveis.
As pressões políticas para que, nos maiores aglomerados populacionais, se restrinja as emissões de gases, originam escolhas por veículos menos poluentes, emergindo o carro híbrido ou o eléctrico como opções de mobilidade que já cativaram as massas, sem se preocuparem com a contribuição relativa dos automóveis para a poluição do planeta, comparada com outros sectores de actividade, significativamente mais poluentes do que o transporte individual. Também sem a preocupação de rastrear a energia que alimenta os automóveis eléctricos que pode ter sido obtida através de fontes não renováveis e, portanto, não limpas.
A interoperabilidade entre os vários meios de transporte e o conceito de pau per use apresentam-se como uma tendência crescente de economia de partilha em detrimento da propriedade, originando novos modelos de utilização dos veículos, com potenciais impactos futuros.
A emergência de novos materiais, novas tecnologias e novos processos de fabrico permitirão obter veículos mais leves, menos poluentes e com melhores características funcionais, para além de ganhos de eficiência nos processos.
OS DESAFIOS DO MERCADO AUTOMÓVEL
Assumindo, portanto, o rumo das mudanças no mercado automóvel global, destacam-se alguns dos desafios que impactarão o setor e, portanto os fornecedores de componentes a montante:
- Motorização – o balanceamento das quotas de mercado entre o carro eléctrico, híbrido plug-in ou tradicional (que por sua vez está em forte alteração tendo em conta a pressão negativa sobre as motorizações a diesel), será a variável que mais impactará o negócio das fundições, tendo em conta a transformação que irá operar-se ao nível das peças actualmente fornecidas. No entanto, o novo paradigma do automóvel constitui também uma oportunidade para as fundições, com relevância para as de ligas leves, tendo em conta a multiplicidade de peças exigidas, sobretudo nos casos de dupla motorização, como os híbridos, bem como a absoluta necessidade de redução de peso, com substituição de peças produzidas em materiais de maior densidade com outros processos produtivos. O aparecimento de novas ligas de alumínio de primeira fusão, que permitem a obtenção de componentes fundidos com elevadas características mecânicas sem tratamento térmico, abre à fundição uma, cada vez maior, presença no automóvel do futuro.
- Condução autónoma – a condução autónoma é já uma realidade que está a ser testada, esperando-se grandes impactos desta medida.
CONCLUSÃO
A sustentabilidade futura dos fornecedores da indústria automóvel, em particular os de fundição, passa pela assunção, entre outros, dos seguintes desafios:
- Evolução na cadeia de valor;
- Integração dos conceitos da Indústria 4.0;
- Assumindo a melhoria contínua como um comportamento de todos na organização;
- Exigência de novas competências, que iniciará uma luta pela atração e retenção de talento.